segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

O Vento


De repente ele muda de lugar
Como quem nunca estivera ali
Bagunça roupa, fechadura e documento
Sai sem cerimônia só desejando partir

Outra fase, outro país
Parece o amor que chega e se vai
Simplesmente sendo feliz
E gargalhando dos nossos ais
Berrando em nossos quintais
Arrombando nossos portões
Deixando marcas ao olhar assim de perto
Chegar do nada, e do nada ir
Como se nunca saíra de lá...
Como quem sempre estivera ali

Mal












Nem me pus a mentir
Normal estartão mal
mal nenhum estar assim 
Ninguém mesmo está normal

Posso até estar cansado
Mas o estado é pior
Por fora: Já não nego
Por dentro: é só o pó

E pode até sorrir ao natural
Assim, aleatório, jaz, sem luz
E se morrer parece um bom final
Sigo vivo na vida para fazer jus




domingo, 28 de junho de 2020

Melancolia


Melancolia | Dibujos tristes, Dibujos, Ilustraciones

Acostumei-me com ela
Faz parte, posto que vivo
É Como o beijo da morte:
Não será facultativo
Acontecerá um dia
Mesmo que nós não queiramos
Destino, acaso, Divino
Coisa que não controlamos

Já que a felicidade
Nunca é questão de ser...
Já que há felicidade
Prefiro me pôr a colher
Pequenas poções de alegrias
Detalhes, momentos pequenos,
Costurando cada sorriso
Como colcha de remendos

A felicidade é o barco
A melancolia é o cais
Preso, aceito o fardo
Dou-me ao desfrute do caos
Cada choro, cada pranto
Cada introspeção
Olhar focado pra dentro
Auto aproximação

Como um contrato consigo
Enamorar a si mesmo
Sem os ruídos de fora
Tampouco perdido a esmo
Sua música, seu disco
O livro que nunca sai
Vinho ou droga que seja
Sua lágrima que cai

Melancolia é constante
Na maioria do tempo
Passa assim, feito um vulto
Que nem se nota o momento

Mas que ousa mergulhar
No mais profundo escuro
Submerge fruta verde
Ascende fruto maduro

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Morrer de amor

Arose's petals Paterson NJ | Coração de flores, Flores


Um amor acabado é quase como morrer. Há diversas formas de morrer, certo? Deus, ao iniciar este capítulo em seu livro de contos humanos, usou do sadismo em várias delas. Como deve ser, aliás, assistir a este grande teatro em seu lugar privilegiado? Há de se questionar, no entanto, se Deus assiste mesmo tudo o que acontece.
Não é um deboche, longe de mim brincar com as forças cuja fonte desconhecemos. Mas partindo da premissa de que Deus tudo sabe – até nossos pensamentos e, quiçá, o que nem pensamos ainda – neste mundo aqui de baixo, qual a graça de um “Vale a pena ver de novo”? Somos apenas os atores dando vida aos personagens que o Grande Diretor escreveu, roteirizou e disse “ação!” ao soprar num punhado de barro. Vale-se do prazer de ver a vida acontecer de algo que ele já escreveu ou talvez ele durma o sono dos justos, poupando-se do trabalho de ver tão deprimentes cenas do nosso cotidiano? Não duvido de nenhuma das hipóteses. A vida é um mistério. Deus é o maior deles. E como eu sempre digo, mistérios são segredos e segredos são sagrados.
Mas, passando pela vida até chegar ao seu fim, eu pensava sobre as diversas maneiras de morrer. Não como um tutorial ou uma espécie de Top Five de melhores mortes. Até eu me pouparia disso! Refiro-me às mortes que vamos acumulando enquanto vivos. Uma delas é o fim de um amor. “Ah, mas de novo o amor?” Sim, E sempre. Por mais que eu negue, devido ao Sol em Sagitário, caio em mim pela Lua em Câncer. Faz sentido? Não sei, perguntem à Zora Yonara.
A morte é triste, em sua essência. Pelo fator despedida, pela saudade que passa a ser eterna, pelas memórias que não poderão mais ser reproduzidas por quem parte. A morte de alguém querido leva algo de nós e é horrível... Por que romantizam essa perda? Parem e sintam essa dor, e depois se recuperem. É DIGNO, JUSTO E LEGÍTIMO.
O Amor findado é ruim assim, quase como se despedir de alguém para sempre, mesmo que em determinados casos, a morte seja o melhor para todos. Há choro até nos olhos de quem já queria o fim. É desgastante, frustrante, e a mala vai cheia de “é... acabou” e nessas duas palavras cabe uma vida construída a dois (talvez a três, quatro...). Às vezes essa vida é curta. O que pouco importa, aliás. Cabe na mala da morte do amor também a saudade, a tristeza, as memórias, os “por quês?” e os “porquês”.
Este episódio, Deus deve querer assistir. Com pipocas feitas das nuvens do céu, a lamber os beiços e as pontas dos dedos. E ao apontá-los para nós, parece dizer: Agora levante e ande! Não é este o autoconselho que nos damos ao olharmos no espelho e vermos nosso rosto amarrotado e inchado de chorar até pegar no sono e tentar reagir? Sei lá se é mesmo apenas um autoconselho ou uma interferência Dele,,,
Seja qual o plano divino, estamos todos apenas cumprindo um script, apesar do contraditório livre arbítrio. Não é um deboche! Longe de mim, querer brincar com as forças que não vemos. Mas enquanto estiver vivo, quero continuar morrendo e renascendo para viver de amor até morrer.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Vença!

Metas de vendas: como acompanhar objetivos para seu negócio

Eu sou um eterno traidor. Sim, de mim mesmo. Projeto coisas internamente e é provável que 10 minutos depois, aquilo seja completamente ignorado. E sem intenção, apenas não me coloco num nível de exigência a ponto de ter que cumprir minhas promessas.
Talvez seja um processo da minha autodestruição gradual. Toda essa pouca intenção de me levar a sério favorece esse cenário catastrófico onde eu não me vejo merecedor das coisas boas que planejo pra mim. E, inconscientemente, atendo esse recado: Mutilação.  É tipo saber que precisa fazer dieta, mas adia para a próxima segunda-feira. E no domingo, come tudo o que há de se comer e inventa o que não seria para este fim. E na segunda diz: “Ah... eu prometi para mim mesmo. Então posso desprometer e não fazer nada. Quem manda em mim sou eu, mesmo quando eu me desobedeço.”...
Sabe quando você JURA que vai dormir cedo e falha miseravelmente? Bom, o caminho para tentar entender isto pode ser este. Você sabe o que fazer para ter mais disposição no dia seguinte, mas seu cérebro está condicionado no inútil trabalho de lutar com o sono, só para ganhar uma batalha interna que ninguém propôs e ninguém vence.
E assim você vai perdendo para si mesmo dia após dia. Sem dieta, sem descanso, sem  viagem, sem os planos, sem os sonhos... Os exemplos são banais, mas aumentadas as suas proporções, chegamos às grandes frustrações, que poderiam ter sido evitadas se você dormisse cedo...
Brincadeira.
É só fazer o exercício de olhar para dentro e se reconhecer como dono (a) dos seus quereres. Independente do grau de relevância, tudo que você planeja para sua vida, é importante. Então, se torne importante para si. Dê-se esse valor. Comece a vencer sua briga interna na inclinação de atender às metas genuínas.

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No mais, não faça como eu que estou digitando isto às 07h da manhã sem ter dormido esta noite: se hidrate,vibre positivo e durma cedo. A menos que esteja vendo os stories do Yuri Marçal... aí vale a pena.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Discos, letras e um violão


Vista a canção 
Já que a roupa não cabe, aperta
Como a dor que não mais interessa
Dispa-se de todo esse mal
Um violão, 
É melhor que este poço de lágrimas 
Afogando na poça de lástimas
Rompa-se deste canto imoral

Nada a fazer
Se cantar é o único bem
E as notas são tudo que tens
E a noite se deita tão só 
Sem reclamar 
Pois ao menos tu tens a canção 
Discos, letras e um violão 
E sem eles seria pior

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Tarde "à Mineira"

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Gosto quando você acorda
Tarde, do seu jeito
Da sua forma de ser... Tardia
Você só acorda a tarde.
E tarda a me sinalizar
Com sua presença falha
Humana, pois!
Eu, que sempre esperei pelos amanheceres
Agora aguardo ansiosamente
O dia chegar à sua metade
Pois se aproxima o momento do seu despertar
Falho.
Calmo.
Humano.
Tardio.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

As marés e os amores do Mar











Seria o cais apaixonado pelo mar?
Ali, parado, acompanhando suas ondas...aguardando qualquer toque em suas madeiras
Desenganado, já que o vento tem vantagem.

Seria a lua apaixonada pelo mar?
Enquanto a Terra, ao girar, limita o encontro
Aguardando até que outra noite chegue
Desiludida, já que o barco tem coragem.

Nessa luta, cais e lua se desamam
Com argumentos para convencer o farol
Enquanto o mar tranquilo, vadeia
Pois quando é dia ele passeia
De mãos dadas com o sol

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Apresentei esse poema a uma pessoa muito especial. Ainda estava me apaixonando. Ela aparentemente gostou e comentou: "uma puta esse mar!" Ao passo que concordei, ela perguntou: "qual a sua semelhança com o mar nesse caso?"... respondi: 
Todo mundo tem um pouco de mar ne? Um pouco de amores temporários... um pouco de flerte com o inalcançável e inatingível... um pouco de quebra dos padrões.  E um pouco de sem-vergonhice.
Todo mundo tem um pouco de mar... mas o mar tbm se apaixona. A culpa talvez nem seja dele. Se a Terra nao girasse (que sao as circunstâncias da vida real na metáfora qje vc propôs) o mar ficaria sempre no mesmo lugar, com o mesmo corpo celeste. Ou com o cais. 
Vai saber.

A pessoa então disse que eu era muito FODA, apesar de eu discordar...e apesar de me achar foda, a pessoa resolveu sair da minha vida.

Deve ter me achado muito parecido com o mar. Ou ela própria se identificou com ele. Vai saber...

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Um breve desabafo destinado a quem não irá ler


     Encontrasse eu um casarão com escadas infinitas rumo ao céu, subiria de dois em dois os degraus pra ficar mais longe do chão,  que já nem me pertence mais depois de você me deixou.
     Eis o medo de cair depois de já caído; o não  querer chorar ja estando alagado; o não querer morrer sem sequer ter vivido.
     Um salve à covardia de não se permitir desfrutar das ridículas sensações da paixão.

A chuva

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A chuva sabe o que faz
A rima da gota com a telha
O canto que traz
O assobio da poça no chão
O acorde menor do barro
O acorde maior do barranco
A lama...
O início e o fim
Lado a lado
A beleza transparente
Vinda de um céu cinzento
Que a todo momento parece escoar
Não há pilastra que sustente
Tão pesada e descontente
Nuvem que parou de vagar
Estacionou sobre nós
Para que a chuva pudesse chover
Como quem quisesse trazer
Letra e melodia
Para morrer na terra canção
O que nasceu no céu poesia

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Dos sentimentos ruins...

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      A vida nos coloca sempre contra a paredena inclinação de escolhas. Ivete ou Claudia Leit(t?)e, Xuxa ou Angélica,  Nescau ou Toddy... Brincadeira, péssimos exemplos (mas #teamtoddy). Na verdade, as escolhas serias da vida nunca foram fáceis de serem feitas, e uma das razões é porque as opções nem sempre são antagônicas. Aí o que já é difícil, vira um dilema!
    Acontece que nós mesmos nos colocamos nessa situação complicada. Eu, por exemplo, costumo me martirizar entre o "ruim" e o "péssimo", quando o mau já é iminente. A tristeza e a raiva são dois desses maus que várias vezes andam próximos. Sério, tenha um "preferido"! Vai lhe ajudar... Prefira aquele que nao lhe bloqueia.
     A tristeza é linda! Promove a introspecção rumo às coisas que podemos fazer por nós, mesmo com um pouco de dor:  autoconhecimento, autoanálise e autocrítica. Inspira-me a escrever, inclusive... Mas esse sentimento me congela num tempo que não tenho para perder. Busco respostas demais, quero encontrar a lógica nas coisas, o sentido de tudo, como uma criança a descobrir as coisas da vida.
     A raiva é péssima. Muito! Destrutiva... um veneno. Mas me impulsiona. Na força do ódio (hehehe) sou obrigado a me desafiar. Deixo de buscar a lógica e vou para a prática. Consigo mais rapidamente me livrar do peso das coisas que preciso esquecer, ao invés de ficar remoendo pelos cantos na tristeza que me faz querer entender o que me deixou ali.
     Caso possa e consiga, escolha o amor. Mas deste eu nao quero falar hoje...

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Na força do ódio...rs! Brincadeira. (mas nem tanto)


segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Sobre o amor - de novo e sempre

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     Imagine-se sentado diante do mar. Você pode  estar num banco do calçadão ou na areia prestes a molhar os pés. Em ambas as situações, você verá o movimento contínuo das ondas. Vindo e indo. Modificando - ou não! - a porção de areia que toca. As vezes faz estragos; Outras, um leve carinho e refresco. Mas o mar está sempre ali.. Com as ondas perto ou longe, fortes ou brandas, dando rasteira ou acalentando...
     Você pode se arriscar! Sentar-se bem próximo à água, estando predisposto a se dar bem ou não com a experiência. Bem ou mal, vivendo algo novo e desafiador. AH, CLARO!! Pode também estar no banco, apenas assistindo as pessoas tomarem caldo ou se divertindo ou experimentando as sensações boas e ruins de se banhar no mar.
     Mas, antes de querer dizer que tudo, inclusive o mar e suas ondas tem seus prós e contras, vale a pena dizer que o fluxo natural das marés é subir e descer. E as ondas vem e vão. Independente de sua vontade ou do esforço que você faça para se manter longe ou pelo prazer semi-suicida de se jogar a todo momento e a todo custo movido pelo calor.
     Ondas e amores vêm e vão!
   
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Não recomendado se não entende ou não gosta de metáforas, entrelinhas, detalhes e mares. 

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Acontecimentos



     "Eu espero acontecimentos...", dizia Marina Lima e eu acordo todo dia esperando também.  A começar pela tensão de estar sempre atrasado e esperar o transporte que vem cheio e atrasado. Sempre. Por esses quesitos, eu, facilmente, posso me chamar Transporte.
     Mas o que eu espero mesmo é por aquelas situações preparadas exclusivamente para mim. Saio de casa, por exemplo, disposto a conhecer o amor da minha vida. Nem sempre preparado, porque vocês sabem daqueles dias nos quais sua beleza ficou dormindo em casa e você saiu apenas para cumprir seu papel na sociedade: se atrasar, reclamar da Supervia, chegar no trabalho de mau humor, não justificar o atraso e rezar com muita fé para que as 18h chegue logo. Não chega... mas vale a fé. E você apenas existiu naquele dia e já foi um imenso ato de bravura!
     As coisas acontecem nos detalhes. Qualquer detalhe. Como uma música que tocou aleatoriamente no YouTube e não era do seu conhecimento e a partir dali ela é a sua melhor música do mundo naquele mês. E você se apaixona pelo cantor também e passa a pesquisar tudo da discografia do artista. Coisa linda esse acontecimento. Enriquecer é mais que encher os bolsos.
     Acontecem coisas nos momentos em que você não espera que aconteça alguma coisa.
M.a.s a.s d.a.n.a.d.a.s e.s.t.ã.o a.l.i a.c.o.n.t.e.c.e.n.d.o !

     E aí, quem sabe, você pode despretensiosamente estar bonito, feio, atrasado, entre amigos, bebendo, tomando café olhando a janela, preso no engarrafamento, ouvindo música triste e tentando gravar um clipe... e conhecer o amor da sua vida. Ou achar cinquenta reais. Ou fazer um novo grande amigo.

     Porque pode nunca haver nada. Mas às vezes, acontece de acontecer.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Questão




 











   Tudo é questão de estar no lugar certo. Tudo é questão de saber a hora certa. Tudo é questão de não errar. Ou seja: não se culpe nem se cobre em demasia, pois todo mundo perde a hora, se atrasa, perde o ônibus e é imperfeito.
     A grande questão, na verdade, é saber que nem tudo depende exclusivamente de você. É entender que mesmo que esteja no lugar certo, a hora certa pode não ser aquela. E que por mais que você saiba a hora certa, o ônibus pode se atrasar ou se adiantar. Por mais que você não erre, irão falhar com você.
     Seja responsável apenas pelo que esteja ao seu alcance, pois as coisas ao redor acontecerão com ou sem o seu planejamento. As boas e as ruins!
     Boa sorte, apenas. Esteja preparado.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Das incapacidades rotineiras









Eu até quero...
Mas quero tudo
Ao mesmo tempo
Muita coisa para dois braços tão miúdos
Nesse mundo tão grande, cheio de lugares virgens
- Para mim –

Desisto...
Desencanto
Destruo a ilha dos sonhos
Com coqueiros de côcos verdes
Eu mesmo corto a raíz
Eu mesmo inundo a ilha
Eu mesmo sou o culpado
Julgo-me, condeno-me
Suicídio diário.

Eu até queria...
Mas era tudo ao mesmo tempo
Que desencantei da vida
Meus braços eram pequenos
Que não consegui cuidar da ilha
 - Dirá do mundo tão grande –

Não consegui usufruir dos côcos
Não consegui instalar as redes
Não consegui nadar
Não consegui chegar
Não consegui sair
Não. Nada. Nunca.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Palavras


A fé, a paz, a oração
O grito, a lágrima do céu
E o pássaro que voa por aí
São palavras que ressoam por aí...
...
A vida, a morte, a beleza
O riso, a dúvida, a tristeza
Artifícios de Deus para sorrir
São palavras que dizem por aí...
...
O verde, a mata, a natureza
A fauna, a flora, a Amazônia
E os balões que caem por aí
São palavras que queimam por aí...
...
O rio, os mares, as marés
A lama, a morte, Mariana
E as tragédias que ocorrem por aí
São palavras que poluem por aí...
...
Estrelas, nuvem, céu azul
Marias, Cruzeiro do Sul
E a fumaça que sobe por aí
São palavras que apagam por aí...
...
Malvinas, Síria, Israel
O aço, o ferro, o avião
E as bombas que caem por aí
São palavras que destroem por aí...
...
João, escolas, Realengo
O negro, a força, Marielle
E as Suzanas  que matam por aí
São palavras que se calam por aí...
...
O tiro, o açoite, a borracha
O gás, o sangre, o cassetete
A esperança dos jovens por aqui
São palavras que não deixam desistir!

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Primeiro presente



Amores virtuais
Também podem ser reais
Rolam juras, vontades
Desejos de verdade
Intenso tanto quanto dois adolescentes a se beijarem no cinema
Isso nutre a paixão à distância
Você, por exemplo,
Longe daqui
Aqueceu uma noite inteira
Enquanto eu comia abacaxi
Nas idas à geladeira
Ficamos nós a cometer loucuras
Físicas, sozinhos.
Imaginando juntos as que cometeremos quando nos encontrarmos
Seu sorriso é lindo
O beijo também deve ser
Quero beijar-te em meio às cócegas
Só para garantir o prazer
De beijar o teu sorriso
Quando em meus braços puder te ter

quinta-feira, 13 de julho de 2017

O que é o presente?

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O que é o presente se não um "sei-la-o-que" na velocidade da luz?
Um segundo! É o máximo que o presente é!
A primeira frase é passado... O começo do dia, é passado.
O "ainda há pouco", é passado igual...
Por isso vivemos nostálgicos. Passados.
Vivemos no passado
O recente ou o distante
Tudo é passado!
O "agora" mal nasceu e morreu sem agonizar
Precoce como o coito de um coelho
Veloz como um cometa
Curto como um piscar dos olhos que não viram metade dos "agoras" deste dia
Quantos "agoras" não vivemos?
Só temos dois tempos: O passado e o futuro
Ou seja, não temos tempo de nada
O futuro é já.
E já, já é passado

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Viagem com Deus

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     De Botafogo, que não é nada além de um bairro charmoso, à Gávea, do maravilhoso time de Márcio Araújo, calcula-se em média  40 minutos de ônibus. 30, quando o Jardim Botânico está sorrindo ou em "não enchente" (daquele teste no qual passamos - uhul, prefeito!) .
     Hoje eu vinha sonolento como de costume, cansado, aquela cara de sofrido, sexta-feira, etc, e coisa e tal. Fechei os olhos para a sonequinha de sempre e ignorando completamente o fato de não estar sozinho disse:
     - Ah Deus, que o Senhor me acorde no ponto certo...
     - Eu te acordo!
     Pense no frio que eu senti na espinha, achando que Deus tinha mesmo me respondido. Ou que eu já estivesse no céu. Ou sei lá o que eu consegui pensar naquele pentelhésimo de segundo. Tive até medo de abrir os olhos... Nunca uma resposta de Deus foi tão rápida!
     Tomei coragem e abri os olhos. Um senhor, muito simpático, me olhava com o sorriso de quem é botafoguense e viu seu time ganhar na noite de ontem.

     Agradeci, afinal. E ele (Deus botafoguense, ou qualquer ser em forma humana) me acordou no Jóckey Club da Gávea. 

Prenúncio de um maravilhoso dia. :D

segunda-feira, 19 de junho de 2017

sobre a morte

Que me doa, a morte, quem sabe um dia
E que eu não tema a dor que me acometerá
O valente que não fui em vida
Não o finja na hora da partida
Que a ferida se abra pra não mais sarar
Estarei pronto, como estou Agora
Uma pílula por dia pra me preparar
Não há apreço por essa estadia
Este corpo onde minh'alma habita
Foi só um trem encarnado a me carregar
Sou então a alma que vaga
Nas vagas horas de existência carnal
Que não doa a dor da morte em vida
Pra que a vida em morte possa se eternizar

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Rio



Eu choro, meus amigos
Precisamente todo dia
De saudade dos amores
De mágoa ou de alegria
De tristeza com os fatos da periferia
Com os textos nos muros antigos
Com contos e poesia
Com música antiga
Sua letra e sua melodia
Renovando dia após dia
Os rios que moram em mim
Pra que as lágrimas que inundam os olhos
De toda emoção sem fim
Sejam sempre um motivo nobre
Para eu permitir cair

terça-feira, 30 de maio de 2017

Cansaço


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No meio da multidão
Com transeuntes comuns
cada qual com seus problemas
Ele deixou que embaçassem os olhos
Molhou o rosto, olhar ao longe
Sem secar e sem pudor
Abraçou um estranho
Caiu a fortaleza
Caiu a bravura
A armadura
Todo o peso...
Melodias diretas em seus ouvidos
Embalavam a cena

- Mas o que houve?
- Deve ser cansaço. Obrigado. Desculpa!

Secou o rosto
Limpou os olhos
Trocou a música
Dançou na praça
Se despediu de dois litros de cansaço
Mas sabe que seu cansaço é um oceano inteiro

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Sobre as manipulações...


- O que você vai fazer amanhã?
- Além de acordar, nada planejado.
- E hoje, antes de dormir?
- Pensar se vale a pena acordar amanhã.
- Nossa... Você não faz planos?
- Sim... Mas entre dormir e acordar, todos eles são modificados ao prazer do Criador.
- Hum...

Escondido



Você ainda pode vir
Ainda estou aqui calado
Rouco de não falar
Sufocado pelo silêncio que inventei
A repressão que imaginei
Justificando todo medo de berrar

Se ainda quiser, pode chegar
Na mesma rua, na mesma casa
Ainda é o mesmo lugar
Que a covardia me aprisionou
Onde os pés não flutuaram
E as asas de criança
Pela metade me cortaram

Tudo bem, a culpa é minha
Tudo bem, tudo bem

Mas se puder, venha!
Talvez eu esteja precisando
Fingindo florecer
Evitando a explicação
Do que não soube entender

domingo, 21 de maio de 2017

parênteses - 1

Sou apaixonado. Estou assim
Pelos chãos do meu passado
E toda estrada percorrida sem fim
Pelos parênteses abertos
Os quais não consigo fechar
Dos amores, uma âncora
Mais que lembrança, um peso
Que me afunda e afunda meu peito
Dói. Sangra. Fere ardentemente
O passado mora lá...
Mas tira férias em meu presente

terça-feira, 25 de abril de 2017

Coisa



Já foi substantivo para objetos
Cuja identificação era impossibilitada por algum motivo
Nomeando algo cujo nome não era sabido...
Virou verbo destinado às ações cujo infinitivo fora esquecido
E então, "coisar" virou um hábito comum
Para qualquer...coisa!
Hoje, além de substantivo e verbo
A "coisificação" toda virou adjetivo.
Qualificando algo que nenhum vocábulo
é capaz de compreender
Assim estamos, todos nós..
Ficando um pouco "coisados"... "Coisudos"


terça-feira, 21 de março de 2017

À procura, à espera...

 












      Ela, àquela altura, já sabia o que queria. Mas quando muito se quer, muito se busca, e por consequência, se perde também. Confunde os quereres com as reais necessidades; a escassês de encontros se sobrepõe aos resultados positivos das buscas...
      Foi assim que ela percebeu a falta que fazia o amor. Já há um tempo sozinha, havia um vazio que não tinha outra explicação. Cheia de amigos, não eram eles capazes de preenchê-la. Dinheiro - pois bem, este sempre fez falta mesmo... Claro. Era mesmo o amor. O utópico! O dos sonhos... Alguém que dividisse as vitórias e as angústias. Alguém que a fizesse novamente tirar os pés do chão e que, com certeza,  bradasse: É ESSE!
      Identificando, assim, as necessidades, a princípio quis procurar. Aplicativos de relacionamento; Conhecimentos aleatórios em redes sociais; conversas vazias com antigos pretendentes; novas experiências... Tudo era em vão. Nem ali, nem em lugares óbvios. Não estavam o tal amor.
      Cansada de garimpar em caminhos tortos, passou a acreditar que Deus reservava um plano melhor para ela. Deus, confundido as vezes com "o acaso", a fez crer que quando tivesse que acontecer, aconteceria em qualquer lugar. Pegava sempre os mesmos transportes, nos mesmos horários. Consequentemente, encontrava quase sempre as mesmas pessoas. Mudou de estratégia, alterando seu trajeto até o trabalho. Outro metrô, outro trem, ônibus em outro ponto, caminhada por outra rua... Percebeu assim, que querendo parecer natural e à espera, estava provocando situações, configurando a tal espera num tipo de busca...
      Até hoje, ainda não encontrou o amor. Milton Nascimento, em uma de suas canções, diz (ainda que não seja sobre o amor): "pode estar aqui do lado, bem mais perto que pensamos...". Talvez amanhã. No trem, no banco, na fila... Talvez sem pressa. Quem sabe nem aconteça.
     Mas ela, ainda espera.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Caminhada













No caminho caminhado
Pelo meu pé caminhador
Descalço, e já com calo,
Deixei um cadin de flor

Em sorriso e em abraço
Quem perdeu, se encontrou
E no caminho caminhado
Tendo alguém sempre do lado
Foi feliz quando chorou

Enganei a dor e a morte
Ressurgi e emergi
Quando achei que fosse sorte
Era Deus a me sorrir

O caminho caminhado
Inda sequer está findado
Mas já fiz tanto na estrada
Tanto atalho, tanta entrada
Que nem ouso reclamar
Quando vez por outra - ou sempre
Encontro-me com azar

Se o caminho teve amor
Teve sorte, teve dor
Teve espinho, Teve flor
Até compensa o cansaço
Do meu pé caminhador

Escolha

Na premissa juvenil
carregava a confiança
de que ser tão viril
me daria a esperança
de ser duplamente feliz

Mas segue a vida
e percebe
que sem saída
rompe-se, fere-se,
e a felicidade lhe foge desde a raiz!

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Nosso Sol












No céu desponta, cedinho
Bem atrás daquela ponte
Que daqui avisto a parte
Que seu corpo não esconde -
Retorcido e cansado
Preenchido de viveres -
Uma luz que pouco a pouco
Enche o dia de prazeres

Inda era madrugada
Quando tu adormecias
Nada competia, então
Só o teu calor sentia
E agora tanto brilho
Bem diante dos meus olhos
Ao olhar diretamente
Ameaça me cegar
Arde a vista e eu insisto
Me alegra a teimosia
E tu dormes, ignoras
Que a noite virou dia

Passados Amantes









O peito da gente vira
Uma morada engraçada
A gente dorme, acorda e um dia
De repente sente nada...

Todo amor que dor virou
Nos inundando vez ou outra
Quando vê, já se mudou,
Foi morar noutra pessoa

E se a outra pessoa
For eu, nesse momento?
Se ontem, vazio, o peito
Abriga algum sentimento:
De quem teria herdado
Um amor tão renegado
De um alguém entristecido
Por amores repassados?

...

More em mim, talvez, (Quem sabe?)
O que já foi seu um dia;
Os amores que meus pais
Já amaram em outras vidas;
Ou aquele que José
Entregou para Maria

Deixa fraco de tão forte
Que quem imaginaria
Que da dor, o amor viria?
Sendo amado, assim: Tanto!
Requentado de outras vidas
Sem perder o seu encanto
Mesmo sofrendo avarias

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A você e esse sorriso desconcertante...

 








     Olha... Deus me livre desse sorriso apontando pra mim. Não que eu prefira o choro e a ira, mas esse sorriso destrói uma vida, tem ciência?
     Ok, uma vida não. Mas derruba qualquer barreira que eu criei em torno de mim contra esses ataques esfuziantes do cupido que, quando vem, nem sempre é com as melhores opções.
     - PORTANTO, disse ao coração, NADA DE SE APAIXONAR, OUVIU?
     Não, ele não me ouve de jeito nenhum. Nunquinha nessa vida ouviu! Então, já que não posso contar com ele, posso contar com você? Simples: escondendo esses dentes branquinhos dentro dessa boca de beleza ímpar, com esses lábios carnudinhos que dão vontade de morder e fazê-los encostar nos meus. Guarde-os.
     Pode ser? Porque não sou imune à paixão que certamente me içará ao céu e, como não sei voar, jogará ao chão um tempo depois. Obrigado pela colaboração.

domingo, 25 de setembro de 2016

Sereia









   



     Eu sei lá dos mistérios desse mar. Na verdade, sei pouco ou quase nada de todos os mares. Há um medo cercado de respeito,  que a certa altura se misturam. Há também encantos, e estes são segredos. E segredos são sagrados.
     Guarde, então, grande mar, seus segredos, mitos e lendas. Como os cantos que não se devem seguir.
     Obrigado pelo colo. Odoyá!

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O último trem

   

     Madrugada...  É aquele trem sem destino que vai largando suas cargas de porta em porta.

     Quando tudo e nada fazem sentido na mesma intensidade; Quando nascem os melhores textos e ao mesmo tempo aqueles escritos que se fossem no papel, teria o lixo como destino. Sem lógica. Ou tanta lógica que jogaria toda sua postura fora. Para melhorar, a pior música com as melhores melodias para rasgar-se todo de vez. Um amor que ri e chora, no silêncio que grita e molha a fronha e o lençol...
     Quando vem a vontade de pegar o telefone e ligar para 300 pessoas e vociferar todas as confusões que moram na sua mente. E ao mesmo tempo, sabe que ninguém entenderia a profundidade das suas reflexões, por mais que se esforçassem. E por ser tarde, não acordaria vocês, meus amigos... E por nem eu mesmo entender o que se passa aqui dentro, jamais cobraria esse entendimento de quem quer que seja.
     Vou aos poucos me convencendo de coisas absurdas. Todas as certezas do dia vêm num pacote e desembarcam na minha cama. Quando eu abro, são as besteiras que pensei ao meio dia e disse “agora não”. Pois bem, na madrugada elas vêm cobrar atenção. E eu dou a atenção que elas merecem. Tento zerar todas as dívidas para começar bem o dia. A essa altura, a cabeça já dói de tanto chorar, eu só penso em dormir porque preciso acordar cedo para trabalhar. Mas tem tanta dívida para pagar, que apagar, realmente, só às 3h...

     A madrugada vem trazendo as saudades que já estavam enterradas há tempos. Enterradas, não... Adormecidas, hibernando nas cavernas (da tentativa) do esquecimento. Tolo! Sou completamente virado do avesso e revirado inúmeras vezes até pousar do lado certo, enquanto as confusões repousam do meu lado. Sempre tem um travesseiro sobrando mesmo...

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

O Cara

   









     De tanto ouvir as histórias de amor das pessoas, passou até a acreditar que esse cara existia. Não um cara que pudesse amar. Mas o amor, esse cara meio que inventado por todas as pessoas para justificar as insanidades cometidas com sorriso nos olhos. Ou os choros de morte na boca. E vice-versa, sabe?
      Pegou a bolsa e saiu. Andou a cidade toda e viu esse cara várias vezes num único dia de setembro. Com calma, nada para se fazer. Viu folhas caindo. Achou lindo! Ainda pela manhã, um cão se soltou da coleira e correu em sua direção. Sem medo, se abaixou, fez carinho em sua cabeça. Era amor puro presente. Achou lindo e foi embora sorrindo. Aquele sol de meio-dia dói em Bangu, mas não na zona sul... A praia de Botafogo estava suja, mas lá no fim daquele quadro, dois morros viram um, fazia uma leve sombra na água do mar. E - NOSSA! - como era lindo. As árvores da rua Paysandu, no Flamengo; Os arcos da Lapa com o bonde passando lá no alto; O Theatro Municipal e a Candelária, ornados pelos detalhes  e acompanhados pelo sol; Toda a extensão calma da Presidente Vargas à sombra... O cara estava ali.
     Almoçou dois pastéis com caldo de cana em Madureira e Madureira é muito amor... As crianças curiosas com as coisas vendidas na calçada do Mercadão são lindas. Perguntas como "mãe... Pra que serve aquilo?", àquela hora, se fez em amor.
     O tal cara resolveu fazer companhia o dia inteiro mesmo. Comprou coisas inúteis e que nunca usaria. A única bolsa já não estava sozinha e era amor em cada sacola plástica. A tolice é o amor. E ela nunca tinha pensado nisso. Em casa, cansada, tomou banho e cada gota que caía era amor líquido derramando em seu corpo. incrível como foi o melhor banho de sua vida.
     O amor mora nas imagens e nos detalhes... Deitou pra descansar. Sorriu. E amando, sonhou.



quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Pausa











Está tudo depressa demais
Além dos meses e anos
Vejam os carros!
Além de cinzas e preto depressa demais
Passam e nem se veem mais...

As pessoas,
Tal qual a moça que sai do metrô,
Também não se olham
Sempre nesses metros rasos
Sempre nos constantes atrasos
Para a escravidão que paga
Para que você não sorria
Os amores estão depressa demais
Passam e nem se marcam
Esquecem-se no meio de tanta correria
Desmancham-se na covardia
Pelo medo da profecia infeliz
Que só se é uma vez
Verdadeiramente feliz
Os acordes, estes também,
Estão rápidos demais
Para encaixar letras maiores
Numa canção descartável
Que virou uma qualquer
Não dedicando verso algum
A sequer uma mulher
Os livros, mais finos,
Para leituras cada vez mais depressa
Receita combatente da preguiça
Não há mais quem peça
Num canto da biblioteca
Um café para passar o tempo
Ou para congelá-lo
Ignorando a igreja
Que com seu badalo
Marca o meio-dia
Eu bem queria...
Eu bem queria
Um freio nessa loucura
Um tanto de doçura
Retirar a pilha do tempo
Para o bloqueio desse vento
Que torna a vida tão dura

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A casa, a Lanchonete e a Culpa

















Desencontrada
No meio da estrada
Em frente à lanchonete
Se alimenta só. Engorda
Se entope e polui
Cospe em si. Maltrata-se
Rasga-se e sofre
Mate-se pouco a pouco

A lanchonete
Que em frente, chama ninguém
Não pisca, Não grita
Não acusa a atenção... É a dona do mal
O mal que a Casa se propõe
Nunca será culpa dela
Ela não olha pra si
Já nem cabe mais em si

A lanchonete é o álibi perfeito
Pra quem vive seus defeitos
Apontando as deformidades
Que passam na outra calçada

Com licença, Maestro












É pau, é pedra
É osso, é foda
É tudo, é nada
É choro, é fossa
É chegada, é partida
É grito, é pranto
É estrada, é a vida
É a perda do encanto
Mas perdão discordar
Acompanhado ou sozinho
Que tal desencanto
Seja o fim do caminho

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O tempo passou na janela...




A verdade é que eu passei muito tempo sem querer nada. Inerte. Vendo o mundo rodar, o tempo passar pela janela e, eu (nem Carolina*), não vi(mos). Daí, tomei o choque. Um tiro - ou soco no estômago - da vida despertou o quanto resta pouco tempo a frente. Mesmo que seja muito.
Morremos um pouco a cada dia, desde que nascemos. Um dia a mais, sempre é um dia a menos. Vivê-lo como se fosse o último, antes de ser uma espera trágica é a melhor forma de fazer valer a pena esses poucos momentos que temos aqui. Sejam eles correspondentes à 5 ou 50 anos.
Mas, voltando ao soco na boca do estômago, que provocou úlceras terríveis à primeira vista, comecei a querer tudo. E ao mesmo tempo. Que loucura ter só duas mãos para abraçar esse mundo gigante! Aqueles sonhos na gaveta (junto com alguns textos impublicáveis) vieram à tona e na mesa, a vontade de realizá-los virou prioridade.
Que bom!
Desejo a vocês muitos socos no estômago, se preciso forem. Mas não deixem de sonhar, realizar, e assim, viver.

                         __________________________________________
*Em referência ao samba lindo e triste Carolina, de Chico Buarque, mais precisamente ao trecho "Eu bem que mostrei à ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu"


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Devaneios de um dia ensolarado










Ah, que desperdício de tempo
Estar preso num prédio
Trampo ou apartamento
Dia lindo lá fora
Perfeito em se perder
Esquecer-se da hora...
Vá, fuja!
Perca-se
Abandone-se deste corpo engravatado
Dessa jaula econômica das oito horas
Dia lindo demais 
Para computadores e impressoras
Corra na areia, fique de boas
Mas caso for,
Leve-me junto, por favor
Ou seremos apenas
Devaneios de um escritor

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Cimento fresco













- Oi.
- Oi...
- O que você está fazendo?
- Estava, na verdade...
- Como assim?
- Estava me curando de você. Do vício de você. Da vontade de saber onde você está, com quem e fazendo o que... Mas aí você reapareceu, de repente,  derrubando o muro que eu criei pra me proteger, com cimento ainda fresco.
- Nossa, desculpa o incômodo.
- Agora?  Fica né! Me ajuda a terminar de destruir o muro?

Saudades, senhor










     O Amor? Conheço esse moço... Algumas vezes veio numa visita rápida; Noutras, até chegou a dormir por aqui. Estranhamente, criamos um laço de amizade, com papos demorados, entrosados, ideias em comum. O Amor é bacana! Bebemos juntos, saímos para dançar. Outras vezes, me Levou a lugares incríveis sem sairmos do lugar

     Mas anda meio sumido... Sinto que ele está aqui perto, talvez na vizinhança. Mas aqui em casa ele não vem há tempos. Se alguém o vir, por favor, avise que o prato dele está esfriando. Podemos jogar um baralhinho, beber um vinho. Se ele estiver magoado comigo, podemos conversar e nos entender. Ele precisa me explicar o que eu fiz.

     Saudade dele, esse sapeca...

sexta-feira, 22 de julho de 2016

O das ruas


Tava lá na esquina
Olhando para o nada
Nada, realmente, havia
e ele fez-se do nada
Pois nada era tudo o que tinha

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Seu pouso










Passarinhos passarão
Por aqui gorjearão
Mas vão procurar
Outros Flamboyants para pousar
Porque este ninho
Embora esteja vazio
Será sempre o seu lugar

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Cacos













Pegue a pá, uma vassoura e junte os cacos. 
Pode se dar o trabalho de tentar colar, mas quantas vezes você já fez isso? Porque não tentar se refazer? Reinventar-se?
Cacos todos temos e sempre teremos! Sempre nos espatifaremos de cara no chão na próxima esquina, mesmo que a esquina não esteja tão próxima. O tombo as vezes é pequeno, caso não tiver dado tempo de subir tanto (comemore, nesse caso!). Acostume-se, por mais cruel que seja essa realidade, com os tombos. Aproveite que "merthiolate" não arde mais, faça um curativo e volte a andar. Mas se quebrar, por favor: Analise se vale a pena fazer reparos emergenciais, e tornar a ser a mesma pessoa outra vez. Não se culpe por se cansar de quem você é! Insano conselho, mas faz parte essa mudança de roupagem.

Esse processo leva mais tempo. Pede um período de auto-avaliação. Pede uma certa abdicação... Mas seu retorno, acredite, será 100%! 
Mas caso tenha se acostumado a ser apenas 50%, 60% ou 70% do que pode ser, aconselho que pegue a pá, uma vassoura, uma cola e remonte os cacos... Mas tenha conhecimento do prazo de validade.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Desencontro










Sem a facilidade de encontrar por aí
Um amor que pudesse chamar de verdade
Nos perdemos
Vaguei pela cidade
Num batuque, sob os Arcos
Ela, na orla olhando os barcos
Ficou por lá, esperando alguém.
Alguém que até hoje
Não sabe se vem. 

A gente se vê...

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Meu reflexo III










Eu minto sempre
E a principal vítima é meu espelho
Quando me percebo vivo
São!
As vezes esqueço que vivo
Perco tempo apenas existindo
Arrastando-me
Empurrando-me aos precipícios
Acordo e, de repente, sei voar
Insano!
Olho de volta para o espelho
Meu reflexo devolve a ousadia
Sorri para dentro de mim
Através dos meus olhos
Invade-me a alma
E minhas certezas são todas reviradas
Revistadas
Postas para fora
E eu me limpo.
Meu reflexo me varre
Mostra-me a verdade
O espelho se quebra e se refaz
E o reflexo me diz:
"Esse é o novo você...
Bom dia, bom trabalho!"
E eu saio.

Ela










No início,
Seu medo era ser deixada.
Histórico incrível de rejeições
Achava impossível suportar a próxima.
E a próxima chegava.
Ela relutava, se iludia
Amava e se perdia.
Ao olhar para o lado, estava outra vez sozinha
Avançou duas casas. Eles, uma só.
No fim,
Acostumou-se
E aí, foi
Vez ou outra.
Vez em quando.
Vez em sempre.
Sozinha.

Testagem













Deitou-se com vários
Assim, por experimentação
Deixou que a usassem
Pensaram que a usariam
Ela quem os usava
Testava, sentia,
Roubava-lhes a alma
Deixava-os fracos
Entregues, sem sangue
Sem ar
Depois mandava-os embora
Pois até agora:
Com alguns, um beijo bom
e apenas;
Com outros, um sexo bom
E apenas.
Nenhum, porém,
Abraçou-a de modo satisfatório
Na hora de dormir
E no fim de tudo
Isso é tudo que ela quer

domingo, 10 de julho de 2016

Além da capa


Pronto, vou revelar:
Usei aparelho!
Tinha um sorriso bacana, mas um dente torto para dentro
Daqueles encavalados
Nas fotos, algumas, parecia não ter dente
De tão para trás tal dente estar
Mas sempre fui assim
Uma alegria que, até, atrai
Uma simpatia que, até, faz se aproximarem
Portanto...
Sou mais que esse sorriso que você diz ser lindo
Fui educado de uma forma linda
Com amor que até hoje entrego a todos

O encantamento com o sorriso é passageiro
Enjoa, com o tempo
Torna-se natural, normal, e as vezes banal 
Então,
Se não souber olhar para dentro de mim
Meu sorriso só vai te fazer feliz à primeira vista
Talvez até à segunda, terceira...
Mas o que eu tenho aqui dentro
Se souber enxergar
É contínuo...
Mesmo não sendo eterno.