terça-feira, 21 de outubro de 2014

Como gatos


   Durante muito tempo eu quis ser um gato. Aqueles das fábulas, que tem sete vidas! Experimentar essa sensação deve ser incrível. Sair vivendo por aí sem nada temer, com a garantia de ter algumas vidas no bolso. Daí, parando de sonhar e desejar o impossível, passei pelo período de não me arriscar, sob o argumento de não "gastar" a única vida que tinha. Nada poderia ser menor, não é?
     Óbvio que você não é um gato. Pelo menos não da classe dos felinos, peludos, quatro patas... Logo, você também não possui sete vidas. Porém, você pode decidir viver essa única vida como fossem sete, ou esperar que ela passe, sem viver grandes emoções, sem experimentar o risco de se perder vez ou outra. Já falei uma vez sobre viver fora do eixo (leia em http://leonardopierre.blogspot.com.br/2013/11/por-um-mundo-com-mais-viagens.html?m=1 ). Então, quer um conselho? Não, mas vou falar assim mesmo: extravasa aí, vai!
     Claro que a vida passa deixando alguns traumas. Mas permita-se sofrer só o necessário. Arrisque-se e deixem que te marquem outras vezes e sempre. Uma hora será bom... Um trauma que você vive remoendo gerará outros traumas. Nem todo mundo vai entender que seu perfil é fechado e retraído por sofrimentos passados. Dane-se, cara! Outra vida, outras pessoas. Encare cada cicatriz como uma espécie de morte e viva outra vez a partir dali. Tal qual um gato. A vida vai machucar bastante - ah, se vai! Então, imagine: você viverá muitas vidas com certeza. Ouvi dizer que os gatos tem inveja de gente assim. Pois que tenham!
     Sete vidas em uma! Acho que nem mesmo Deus pensou que pudéssemos ser tão sagazes. Desprenda-se de certos medos que lhe impedem de avançar. Com cuidado, sim... Há medos necessários (leia em http://leonardopierre.blogspot.com.br/2013/04/apologia-ao-medo.html?m=1 ). Mas deles também já falei, agora o papo é de coragem.
     Vamos experimentar sair do comodismo, essa inércia inoperante, do medo, dos sonhos que não acordam... A vida é aqui fora, é uma só. E você pode vive-la como quiser, varias vezes, cicatriz sobre cicatriz. É só querer!

                                   Leonardo Pierre
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Oriundo de uma conversa inspiradora com a minha mais nova leitora: a professora e linda, Luiza.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O último suco


“Pai e Mãe,

Está um pouco complicado manter-me aqui. É como se não tivesse motivos para isso...


Escrevendo essa carta, sei que não os tenho mais, mas é que sempre que pensei em fugir, sonhava em deixar uma carta para vocês... Assim como acontece nos filmes. E lembrando que não tenho mais vocês, é que fica tudo mais complicado...


Ninguém me entende por dentro...

Todas as minhas crises, meus dilemas, minhas dúvidas infindas... Minhas conversas comigo mesmo, cada vez mais constantes... O meu canto, cada vez mais alto e desesperado... Por um tom, uma cor, uma ajuda!

Ninguém entende, pai, que eu queria mesmo era ser como você. Ninguém entende, mãe, que os valores que me passou é tudo o que eu tenho. Peço desculpas aos meus amigos por não poder oferecer nada, além disso.

Ninguém entende os gritos que solto, no silêncio torturante, com os olhos abertos e pálpebras trêmulas. Ninguém me socorre.

O meu sofrimento calado, enquanto sorrio falsamente para todos os lados... Ninguém nota.Não sei quem vai ler isso... Por quanto tempo ficarei aqui jogado, se darão falta em horas ou em dias. 

O meu suco de laranja, batido com goiaba, nosso preferido está uma delícia. O último! Com alguns grãos de minhas lágrimas que se solidificaram nesse veneno que me matou pouco a pouco durante anos e agora o fará pela última vez... Misturei, está imperceptível. Muito gostoso e sem cor aparente... Estou meio tonto... Não sei se conseguirei assinar a carta, nem colocar nela tudo o que desejo. Mas moro só, como fiquei só durante esses anos sem vocês, saberão que fui eu. Aos amigos, peço desculpas pela covardia de não conseguir ver a vida de frente, apesar de todas as conversas. Amo todos, retribuindo o carinho que tiveram comigo... Obrigado, desculpas   ..........                                                       

                                                                       Um Personagem
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Menos um dentro de mim...