segunda-feira, 7 de março de 2016

Mais um dia... Menos um dia


Quero dormir, ou quem sabe, fingir
Sonhar, ou quem sabe, partir
Me eximir da culpa de viver 
Enquanto houver motivos pra morrer
Decido a vida como bem quiser
Por isso me recuso a perder...
Ao acordar nesse falso altar
Por me agraciar com tantas cores
Queira, Deus, ser dono de mim
Livrando a amargura dessas dores
E lindo ser, vivendo
Sonhando, mas permanecendo atento
Talvez ignorando o calendário
Que insiste em me mostrar o fim do tempo
À luta, sem perder a esperança
E sem esvaziar o coração
Desejo ir dormir feito criança
Que se encanta com bolinha de sabão

Ir

Tudo é questão de confiança,
Que eu também nem tenho tanta,
Mas sorrio e vou à luta
Pois seguir é importante
Mesmo com a batalha curta
Mesmo sendo um ser errante
Mesmo que nem tudo rime
Mesmo com falta de ar
Mesmo que tudo termine
Mesmo que me faltem as pernas
Mesmo que acabem as caronas:
Ir ainda é o melhor
Pois a volta me compensa
Com o sorriso que fui

Volto, as vezes diferente,
Com a confiança de sempre
Ou de nunca, como sempre
E quem é que vence sempre?
E para que existe o sempre
Se é o impossível que me espanta?
Nessa terra de "me espera"
o "vambora" é que me encanta

Elas sempre olham


     Os dias, para quem mora longe do trabalho, já começam cansativos na viagem. Não possuindo carro particular, piora um pouco. O jeito é se arrumar bem, borrifar um bom perfume, se vestir de um lindo sorriso e pedir carona encarar o transporte público, onde ás 07 da manhã já é possível detectar alguns odores não tão agradáveis quanto o seu, pois já deve estar na rua desde ás 05 horas. Não, isso não justifica, pois existem desodorantes com 48 horas de duração (quem fica esse tempo todo sem tomar banho???). E sua blusa bem passada? Esqueça disso se por acaso depender de ônibus, trêm ou metrô...
     Mas nem tudo é de todo ruim. Eu que faço essas viagens tomando conta da vida dos outros prestando atenção nas cenas cotidianas, às vezes me emociono. Dia desses no metrô, cheio como de costume, me apoiei na porta, na tentativa de sobreviver de um possível esmagamento, olhando para todos à minha volta, com o tempo passando mais depressa no relógio que a composição sobre os trilhos. Do outro lado, um homem e uma mulher, bem próximos (e não tinha mesmo como não estarem), conversavam sorrindo, enquanto ela carinhosamente passava as mãos no cabelo dele. Ele, por sua vez, a olhava expressando ternura e admiração extrema. Torci para um beijo, enquanto eles falavam sobre planos, e ela notoriamente com mais idade parecia lhe dar conselhos e dizer o q faria se estivesse em seu lugar. Ele consentia, balançava a cabeça afirmativamente.
     Eu ainda torcia para um beijo quando foi anunciada a próxima estação. Eles começaram a se despedir, se olharam e levemente tocaram os lábios um do outro. Tão sensível e apaixonado, que passei a ser o terceiro apaixonado daquela relação. Quando abriu a porta do metrô, ela, antes de sair com suas enormes bolsas alocadas no ombro direito, virou e lhe disse: - Mamãe te ama!... Arregalei os olhos para impedir que qualquer lágrima marota se derramasse deles e me controlei para não ir até o rapaz e perguntar o que faltava para ele dizer que também a amava. Eu não precisava mesmo interferir no relacionamento deles, pois ele disse. E alto! Eu estava quase satisfeito naquela manhã...
     Enquanto a mãe mais linda daquela viagem se afastava à caminho da escada, eu torcia: "ela vai olhar pra trás". Eu tinha certeza daquela cena complementar. O metrô fechou as portas, enquanto o rapaz a olhava se distanciar. Ela, como em câmera lenta, pôs o pé na escada, se virou, sorriu, e com o auxílio das mãos, entregou-lhe um beijo, jogando-o no ar com o endereço daquele rosto de menino que o filho passou a ter naquele momento. Eu sabia... As mães sempre olham.

     Direcionei-me àquela porta para descer na próxima estação, olhei para o rapaz e por pouco não o abracei. Mas me contive e apenas sorri, associando aquela cena à tantas parecidas que vivi com a minha mãe, recordando de todas as vezes em que a flagrei olhando para trás ao nos despedirmos.