terça-feira, 15 de maio de 2012

A outra ligação - Enfim, o Tempo



Queridos, o texto abaixo é uma continuação de um outro texto já publicado por mim aqui no blog. Aconselho que o leiam antes, para fazer um sentido melhor. Se chama "A ligação", publicado em 02/02/11. Boa leitura!
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Depois de alguns meses que a Saudade me ligou, aconteceram incidentes na minha vida. Perdi pessoas, me perdi em tudo... E adivinhem o que eu passei a sentir: saudades. Mas aí, quando eu queria mesmo falar com ela, ela não me ligou mais, só se fez presente no ar, pertinho de mim. Tão perto que eu parecia sentir sua respiração!
Nesses momentos eu lembrei de que a ligação tinha caído antes de ela me dar a última recomendação, a qual começava com “Faça de mim...”. Fiquei durante meses tentando entender o que a D. Saudade quis dizer pra mim, e talvez, queria que eu espalhasse por aqui. Recebi milhares de ligações nesse período e nenhuma delas era da Saudade, ou do Amor, ou de nenhum desses sentimentos, como me havia prometido.
Certa noite, dessas em que chove muito e faz um frio dos pólos, onde também é quando a saudade dói mais (desculpa D. Saudade, sei que a senhora não gosta de admitir, mas tem me maltratado bastante!) meu telefone tocou. Achei que fosse um amigo, uma amiga, uma tia, prima... Mas não era nenhuma dessas pessoas da lista óbvia que todos temos.
- Alô!
- Oi meu filho, tudo bem? – Disse ele, com voz imponente, bem impostada, quase ecoando. Achei inclusive, num primeiro momento, que fosse Deus... Ah, vai saber... Com medo, continuei:
- Tudo bem sim, mas quem está falando?
- Você foi avisado de que eu ligaria, não tem nenhuma suspeita?
Não... Eu não tinha nenhuma suspeita. Naquele momento nem passou pela minha cabeça a lista de “pessoas” que a D. Saudade disse que me ligaria. Suspeitei, a partir daí, que fosse algum professor me cobrando trabalho, algum amigo do trabalho perguntando de planilhas. Depois de reparar nos meus cinco segundos de silêncio, ele se apresentou:
- Sou eu, o Tempo!
- Ah, pára! De novo isso! – Exclamei surpreendentemente irritado com a ligação. Afinal, perdi a pessoa mais importante da minha vida alguns meses depois que a Saudade me ligou. Pensei: “Qual será o ônus que terei depois de mais essa ligação surpresa?” E como quem entendeu minha indignação, o Tempo continuou:
-Calma, filho! Em primeiro lugar, não vou brigar com você como fez a Saudade. Embora vocês aqui me vêem passar e nada fazem. Mas ela estava nervosa e muito agitada naquele dia. É temperamental, apesar de essa ser uma característica que remeta a mim. Fique tranqüilo porque eu já briguei com ela... O motivo da minha ligação é minha preocupação com vocês! Aquele baiano, o Caetano, me chama de deus e fez acordo comigo. Mas tirando ele, ninguém me nota. Me deixam passar e sabem que eu não volto da mesma forma. O que passou, passou! O vento é outro e o Tempo também.
- Vem cá, Tempo... com todo o respeito: porque eu tenho que ser o porta-voz de vocês aí do sei-lá-onde-vocês-vivem ?
- Isso quem tem que descobrir é você! Acontece é que por um problema da nossa operadora telefônica a ligação que a Saudade fez pra você caiu e ele não terminou de dizer o que queria. Mas o que me deixou chateado é que você não fez muito esforço pra entender o que ela quis dizer. Ela iria completar falando pra vocês fazerem dela um instrumento de superação. Além é claro de usarem ela pra lembrar-se de coisas boas, momentos bons. Ela só existe pra que vocês possam reviver, em pensamento, tudo aquilo que lhes proporcionou alegrias em suas vidas.  E eu, tenho participação nisso, por isso estou ligando
- Ah, claro... Vocês e suas ligações! Saudade irmã do Amor, agora vêm o senhor me dizer que tem a ver com eles também. – Resmunguei, abusando da paciência do Tempo.
- Isso mesmo. A Saudade dói às vezes, embora ela não reconheça isso. Mas eu venho pra trazer as lembranças e quando vou embora, levo comigo um pouco da dor. Aquela frase clichê “Com o tempo tudo melhora” é batida, mas é verdade! Comigo, as coisas vão melhorar, tudo vai clarear, o sol vai brilhar outra vez. Mas lembre-se: Eu passo, eu sempre mudo. Assim como o vento, meu grande companheiro de anos e anos...
Mais calmo, passei a raciocinar e lembrar de todas essas frases que a gente ouve durante a vida e vi que o que o Sr. Tempo me falou fazia todo o sentido, mesmo que nossa incredulidade nos bloqueie. Devo dar esse voto de confiança ao Tempo. Dizem que ele é “um dos deuses mais lindo”.
- Tudo bem. Vou acreditar no senhor e esperar que me ajude. Não que eu não goste do senhor, mas demora muito a passar não, ta? Leva um pouco essa dor da saudade e trás a bonança pra perto de mim!
Parece que ele não gostou muito e respondeu-me:
- O problema de vocês é que não sabem lidar com as coisas ruins que, mesmo sendo assim, ensinam muito. Ande um pouco, pense na vida, esqueça do mundo, pense em você, reorganize seus planos. Aí sim, poderei ajudar! Sinto muito meu filho, tenho pressa e preciso ir... Muita coisa pra pôr em ordem na vida de quem já aprendeu a conviver com a Saudade e agora depende de mim. Fique com meu Grande Mestre!
Pelo menos dessa vez a ligação não caiu e pudemos completar a chamada. O Sr. Tempo e sua voz de locutor que, a principio tinha me assustado, venho pra tentar clarear meus pensamentos. Acredito que tenha aprendido alguma coisa. Mas pôr em prática, só com o "Tempo"!

Leonardo Pierre
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E não é que o Tempo ligou?

Nunca Mais...



Decidi, assim de última hora, que nunca mais vou fazer algumas coisas. A começar pelo o que venho fazendo demasiadamente nos últimos tempos: reclamar da vida. Na verdade, não reclamo da vida... Eu reclamo pra vida. Porque não tenho mais coragem de reclamar pra uma pessoa. Tenho achado chato ficar nessa “choramingação” (Sim, é um neologismo e eu adoro neologismos). As pessoas até dizem que suportam isso, mas eu estou me colocando no lugar delas e sentindo minha chatice. Portanto, "NUNCA MAIS" reclamar da vida. Não, não... Vou trocar! Nunca mais reclamar da vida para os amigos. É, melhorou!
Após essa primeira reflexão, decidi nunca mais dizer nunca mais! Primeiro, porque a gente sempre acaba dando uma reclamadinha. Depois, porque esse lance de nunca mais é igual à promessa de réveillon. Por exemplo, já disse que nunca mais voltaria em um lugar que... Voltei depois. Já disse que nunca mais falaria com pessoas que... Acabei falando. Nunca mais amar, nunca mais me entregar, nunca mais beber (essa então!)...
Como vou banir da minha lista de afazeres a preguiça? A grande destruidora das vontades de fazer coisas... Tudo bem que com a preguiça comigo é bem mais fácil seguir uma série de “nunca mais”, porque com certeza abraçaria a preguiça e nunca mais, mesmo que eu quisesse, faria muita coisa! Logo, a preguiça fica. Um pecadinho a mais não é muita coisa pra quem peca todo dia, não é?
Bom, com isso ficou difícil! Como vou garantir que nunca mais eu vou dizer “nunca mais”?




Leonardo Pierre


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Além de "nunca mais", quantas promessas vãs já não cansamos de fazer? Aos pais, professores, amigos e à nós mesmos...