Certa vez acordei e dei de cara comigo. Maldito espelho que insiste em me mostrar. Do lado de cá, indisposto a ver quem quer que fosse, me obriguei a sorrir, na tentativa de refletir algo positivo para o restante do dia. E saí, mal convencido.
Tomei um ônibus e, antes que pusesse meu pé no primeiro dos degraus, vi meu rosto mal humorado no retrovisor. Obriguei-me a sorrir. Enquanto isso, o motorista me sorria, pensando que meu riso era para ele. Desejou-me um bom dia caloroso, e a trocadora refletia o sorriso do motorista, que refletia o meu, que não passava de um reflexo mentiroso do retrovisor do ônibus.
Ao chegar no trabalho, me sentei e a mesa de vidro, teimosa como todos desse dia, me refletia. Obriguei-me a sorrir, a fim de me iludir com um dia agradável. Nisso, chegando os colegas funcionários, os mesmos me sorriam de volta, sem saber que meu sorriso era falso. Tanta graça foi iluminando o dia que, àquela altura, eu já nem lembrava porque começara tão ruim...
No fim do dia, contabilizei tantas risadas espontâneas a partir de sorrisos forçadamente refletidos que resolvi beijar meu espelho e o agradecer, como quem agradece a si mesmo, pelo lindo dia que ele me proporcionou.
(...)
Hoje acordei e dei de cara comigo. Bendito espelho, inspirador dos sorrisos de todo dia.
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