Os
dias, para quem mora longe do trabalho, já começam cansativos na viagem. Não
possuindo carro particular, piora um pouco. O jeito é se arrumar bem, borrifar
um bom perfume, se vestir de um lindo sorriso e pedir carona encarar o
transporte público, onde ás 07 da manhã já é possível detectar alguns odores
não tão agradáveis quanto o seu, pois já deve estar na rua desde ás 05 horas.
Não, isso não justifica, pois existem desodorantes com 48 horas de duração
(quem fica esse tempo todo sem tomar banho???). E sua blusa bem passada?
Esqueça disso se por acaso depender de ônibus, trêm ou metrô...
Mas
nem tudo é de todo ruim. Eu que faço essas viagens tomando conta da vida dos
outros prestando atenção nas cenas cotidianas, às vezes me emociono. Dia
desses no metrô, cheio como de costume, me apoiei na porta, na tentativa de
sobreviver de um possível esmagamento, olhando para todos à minha volta, com o
tempo passando mais depressa no relógio que a composição sobre os trilhos. Do outro
lado, um homem e uma mulher, bem próximos (e não tinha mesmo como não estarem),
conversavam sorrindo, enquanto ela carinhosamente passava as mãos no cabelo
dele. Ele, por sua vez, a olhava expressando ternura e admiração extrema. Torci
para um beijo, enquanto eles falavam sobre planos, e ela notoriamente com mais
idade parecia lhe dar conselhos e dizer o q faria se estivesse em seu lugar.
Ele consentia, balançava a cabeça afirmativamente.
Eu
ainda torcia para um beijo quando foi anunciada a próxima estação. Eles
começaram a se despedir, se olharam e levemente tocaram os lábios um do outro.
Tão sensível e apaixonado, que passei a ser o terceiro apaixonado daquela
relação. Quando abriu a porta do metrô, ela, antes de sair com suas enormes
bolsas alocadas no ombro direito, virou e lhe disse: - Mamãe te ama!...
Arregalei os olhos para impedir que qualquer lágrima marota se derramasse deles
e me controlei para não ir até o rapaz e perguntar o que faltava para ele dizer
que também a amava. Eu não precisava mesmo interferir no relacionamento deles,
pois ele disse. E alto! Eu estava quase satisfeito naquela manhã...
Enquanto
a mãe mais linda daquela viagem se afastava à caminho da escada, eu torcia:
"ela vai olhar pra trás". Eu tinha certeza daquela cena complementar.
O metrô fechou as portas, enquanto o rapaz a olhava se distanciar. Ela, como em
câmera lenta, pôs o pé na escada, se virou, sorriu, e com o auxílio das mãos,
entregou-lhe um beijo, jogando-o no ar com o endereço daquele rosto de menino
que o filho passou a ter naquele momento. Eu sabia... As mães sempre olham.
Direcionei-me
àquela porta para descer na próxima estação, olhei para o rapaz e por pouco não
o abracei. Mas me contive e apenas sorri, associando aquela cena à tantas
parecidas que vivi com a minha mãe, recordando de todas as vezes em que a
flagrei olhando para trás ao nos despedirmos.