terça-feira, 25 de setembro de 2012

"Vontadeando"




Às vezes tenho vontade de ser louco... Ou de ter sido louco! De ir ou ter ido às últimas conseqüências. De ter arriscado ou estar arriscando. De sumir durante o dia, viajar pra longe, voltar à noite. Ou se não der tempo, só no dia seguinte, dois dias depois, nunca mais... Tanto faz!
Às vezes dá vontade de ter alguém te esperando quando chegar... Essa vontade, na verdade, é permanente. Mas como muitas vezes não tem, dá vontade de voltar não.
Às vezes não dá vontade de acordar. Não para sempre! Só por hoje, ou por dois dias. Sei lá, para esperar os dias de frio e chuva passarem. Ou passar direto pela segunda-feira. Ou pra chorar dormindo e acordar quando o lençol estiver seco, para ter a impressão de não ter chorado.
Às vezes dá vontade de ter vontades... De olhar para dentro, na alma. De entender as vozes da alma, os gritos perturbadores que clamam por liberdade.
Às vezes dá vontade de ser o velho eu. Ou antecipar de uma vez o que deverá ser o próximo eu. Pensando assim, parece mesmo que eu sempre vou querer mudar. E ter novas vontades.
Já é um começo – e tanto - para quem acha que nunca tem vontade de nada. Talvez eu subestime demais as minhas vontades, a ponto de dizer que não as tenho. Que louco! Olha, não era eu quem queria ser louco, há algumas linhas acima?
Às vezes dá vontade de saber nadar. De me igualar aos peixes e ir, lutando contra predadores, chegar às águas calmas, descansar e talvez tentar voltar... Ou cansado de lutar, seguir o fluxo do rio, e descobrir, tal qual a vida, onde o rio vai dar. Espero que os peixes gostem de água salgada.
Às vezes dá vontade de ter crescido em outro lugar, de ter experimentado outras aventuras, ter tido outros amigos, e seus tipos também diferentes. Sei lá, talvez só para testemunhar de dentro o que é ser outra pessoa, com outra educação, manias e costumes. Ter ido a outras festas, mergulhado em alguns livros, aprendido em outra cultura, ser portador de outro sotaque.
Muitas dessas vontades vêm de forma espontânea, mandantes de suas próprias vontades de vir e ficar. Ou ir embora, só pelo prazer de deixar o ímpeto de experimentar. Outras vêm depois de uma leitura, ou um filme que deixa mensagens sutis. Às 2 horas da manhã, porque nesse horário não tem mais barulho. Posso ouvi-lo, vê-lo, senti-lo e perceber seus sinais. E a partir daí, ter tais vontades, que podem ir embora enquanto durmo, ou se reforçar nos meus sonhos. E ao acordar, agilizá-las, ou dizer “não... talvez eu queira, mas deixa para lá. Preguiça demais para essa vontade.”.
Posso realizar algumas dessas vontades. As que se podem concretizar em tempo presente. Alias, posso tentar... As que não custam mais que do que há no meu bolso. Pensando um pouco, percebi que sonhos e vontades cabem no mesmo quarto, são amigos íntimos. A diferença é que os sonhos devem ser – embora nem sempre sejam – mais fortes que as vontades, que são volúveis, instáveis. Os sonhos não! Devem gritar dentro da gente como quem quer existir por desejo próprio, pedindo ajuda, implorando realização. Os sonhos devem ser felizes ou no mínimo, combustíveis para a felicidade. Uma espécie de alvo para o dardo, maça para a flecha, o mar para o rio, e o horizonte para o mar. Deveria ser, aliás, o horizonte para nós. Distante, porém, desejável.
É uma pena, ainda assim, nós preferirmos ter vontades ao invés de sonhar!



                                                           Leonardo Pierre


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Ainda é "só" Amizade?




Você já sentiu que uma amizade estava forte demais e confundiu com amor, ou qualquer coisa parecida? Algumas pessoas apostam no sentimento transformado. Dessas, algumas são bem sucedidas, é mesmo amor! Outras não... Apostaram no amor e se viram perdidas, iludidas, pois, nutriram tanto o coração de falsas esperanças, principalmente por ver que investiram sozinhas em um sentimento que deve ser compartilhado.
E ao ouvir alguma música, olhou fixamente para o telefone, durante os longos 3 ou 4 minutos da canção, esperando que o destino agisse, que o universo conspirasse a favor justo naquele momento, que os tais sinos tocassem... No caso, o telefone. Não tocou. Mas para alguém tocou, o destino trabalhou, o (a) aspirante a amado (a) gastou seus créditos, pulsos ou o tempo de trabalho porque pensou no outro.
Outras pessoas, mais duras, experientes ou simplesmente por defesa resolveram não levar a diante qualquer mínimo fogo de palha que esquentasse o coração. Dessas, algumas foram bem sucedidas, era mesmo fogo de palha! Outras não... Deixaram de apostar no embrião do amor, sentimento puro que nascia de forma igualmente pura e despretensiosa. Quiseram lutar contra o destino, deixando escapar a felicidade...
Aí, o destino revoltou-se! Com toda a razão... Fez o trabalho direito, maior sacrifício para estreitar os laços, fazer pessoas distintas se tornarem amigos, proporcionar encontros casuais e, de repente, por se acharem entendidas demais, as ignoram os sinais (A rima não foi proposital, mas poderia ser!). E a vida castiga, claro. Faz questão de “apresentar” as piores pessoas do mundo, só para fazer enxergar o que perdeu. Às vezes há uma segunda chance. Se sim, é bom aproveitar!
Em outros casos, ele, o destino (ou o acaso, vai saber?!) agradece pela sapiência adquirida por anos, ou até mesmo se foi sorte de escolher não ter apostado. Aí ele parabeniza e premia com a confirmação da amizade, que vem sempre com os melhores abraços, carinhos, conversas, conselhos e besteiras. Porque besteira boa a gente faz com os amigos! E aí se percebe que foi uma ótima não ter se iludido com tais carinhos, que queriam mesmo dizer “sou teu amigo... só teu amigo!”.
De um modo geral, não há conselho bom o suficiente que caiba em todos os casos. É sempre bom ficar atento aos sinais, mas sem forjá-los, ou forçar situações, para não correr o risco de se enganar e ludibriar os olhos. Cuidado para não confundir um carinho forte, ou uma grande admiração com amor, paixão ou afins. Deixe acontecer e perceba. Isso sim serve para todos os casos, por mais vago que pareça. Se for para ser, será... A não ser que você queira driblar o destino.



                                                 Leonardo Pierre

..........................................................................................................

Sinais, Destino, Acaso, Vida... Tudo obra de Deus! Só não se sabe pra que...

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O Bom da Vida


Revisitando algumas memórias antigas, percebi que sempre tive saudade. Ou seja, eu nunca estive satisfeito! Sempre querendo ter a idade de antes, sempre pensando que eu seria mais feliz se tivesse tomado outras decisões. Daí, percebi que o bom da vida é viver. E o ruim, também!
Mas o ruim da vida é muito mais que apenas viver. Adicione à lista, por exemplo, os dissabores do amor (E as decepções provenientes dele também). Que desagradável é se decepcionar! Mas olhe para trás... Quantas vezes isso já aconteceu e você – veja só – não morreu! E esse é o bom da vida! A nossa capacidade quase infinita de superar. Digo quase, pois vai chegar um dia, talvez amanhã, daqui a dez anos, ou só na sua velhice, em que você vai perder. Para uma doença, um acidente... Mas ainda assim, a vida lhe dá essa chance todos os dias.
Percebi também que o ruim da vida é esperar, mas que o bom da vida está justamente na esperança. Assim como é ruim se decepcionar, mas é ótimo acreditar. Andando, você percebe que é bom olhar pra trás, sim. Mas é bom também que não se esqueça de olhar pra frente e vislumbrar novos horizontes, por mais clichê que seja a frase e o conselho. Por mais que eu mesmo não siga meus próprios conselhos...
Hey, Vida, está me ouvindo? Eu ainda gosto de você, surpreenda-me! Mas por favor, um pouco menos negativamente. Assopre aqui um pouco mais de esperança, dedicação, perseverança, vontade... De viver, também, por que não? Mais sorrisos, mais dias ensolarados por dentro de mim, mesmo que chova torrencialmente lá fora, não importa! Ande para mim, comigo e por mim. Me dê mais motivos para crer que você tem mais de 50 % de coisas boas, que coisas ruins (ou eu troco o título do texto!)...
Ainda sinto saudades dos meus 16 anos, porque se o bom da vida é viver, o ruim dela é essa mania de me fazer querer sempre voltar atrás. E se o ruim é não ter tal máquina do tempo, o bom da vida é a possibilidade de acordar e ter forças para tentar construir o mundo melhor particular. Com mais de 16 anos, já temos armas suficientes para isso. Obrigado, Vida... Por apesar de tudo, me deixar viver.


                                                      Leonardo Pierre
.................................................................................................


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Ainda sei chorar



Sempre a vida, não é? A causadora de tudo, culpada pelas tragédias... De mãos dadas com o destino, faz coisas que Deus só não duvida porque é Ele quem está no comando de tudo. Mas uma das coisas que a vida leva culpa é pela frieza das pessoas. Comigo (sou uma pessoa, claro) não é diferente. Pelos incidentes, obstáculos, pedras jogadas em cima, pedras arremessadas por mim, por casos e acasos... A vida levou a culpa e eu me tornei mais frio, mais seco,  insensível. A maioria dos sofrimentos é reversível, a gente aprende a lidar e percebe que nada é infinito, nem mesmo a dor. E como tudo tem limites, eu tenho os meus. Ainda existem sensações que me fazem chorar, pois ainda não sou um poço de frieza como eu mesmo ando me tachando.
Passar de trem pela Mangueira, de ônibus na Vinte e Oito de Setembro, em Vila Isabel. Ações que trazem lembranças ruins, que me remetem ao fim. Fim da esperança, fim de uma felicidade que já tinha seus dias contados. Ouvir músicas ainda me faz chorar... E muito! E muitas músicas, às vezes só a melodia. Só a introdução. Só o solo do violão. Violão ainda me faz chorar... A música tem dessas coisas... Elevar o espírito, ou afundar de vez o indivíduo na lama, na mesa de bar, nos postes, nas lágrimas.
A noite também me faz chorar. É quando tudo faz sentido - ou não. Quando o travesseiro é o ombro de um amigo que ouve quieto o nosso também silêncio. É quando o complexo se simplifica e o simples se complica... É quando dói mais a saudade, trazida pela paz da tranquilidade e solidão. É quando mais se pensa em quem já se foi e não está presente pra dizer boa noite. É a chance de cultivar o pensamento vão de "quando acordar, tudo não vai ter passado de um pesadelo".
E o despertar, cedo ou tarde, é sempre a tapa no rosto que diz "Bom dia, a vida é de verdade!". Portanto, o dia também me faz chorar. A realidade é cruel e machuca, expõe, castiga, agride o que você tem de mais valioso agora: as lembranças. Logo, as lembranças também me fazem chorar... E muito!
Vê-se que eu não sou tão vazio assim! Ainda tenho algum tipo de sentimento aqui dentro, guardado, claro, muito bem escondido. Preciso reaprender a utilizá-lo, fazia isso tão bem. Mas enquanto não consigo, vou chorando! Sim, sigo às lágrimas, que um dia secarão e servirão apenas para formar uma poça para que ao me refletir, eu consiga enxergar no meu interior o que um dia já fui, para que eu volte a ser. Se for da vontade da Vida. Do Destino... E de Deus.

                                     Leonardo Pierre

................................................................................................

Redescobrindo a emoção da vida... !

domingo, 15 de julho de 2012

A procura da vida perfeita



Passamos boa parte do nosso tempo desejando algo. Uma pessoa, um objeto, um estilo de vida. Para nossa vida ser perfeita, precisamos ter tudo, absolutamente tudo o que desejamos. E não sei se por defeito ou virtude, estamos sempre querendo mais. É virtude sob o ponto de vista de buscar melhorar sempre, ter sempre o que nos satisfaça, e sendo assim, correr com obstáculos, pulando-os um a um, até a linha de chegada... Mesmo que não seja em primeiro lugar! Porém, essa busca vira um defeito se passa a ser único objetivo da vida. Querer sempre mais pode ser perigoso se o “mais” for a vida do outro. É doença passar mais tempo desejando o que o vizinho tem, ao invés de correr atrás do que deve ser nosso!
Podemos dizer então que nunca teremos uma vida perfeita, já que sempre queremos mais, mais, mais e melhor! Ainda bem. Uma vida perfeita aos 20 anos de idade, por exemplo, poderia significar o fim da existência. Sem ter o que almejar, qual é o desafio? Então, desejemos... Com moderação. Para mim, o desafio gostoso da vida é a busca incessante pela alegria, inocência e pureza dos sorrisos infantis...
Ser feliz deveria ser meta primordial do ser humano. Porque, quem consegue “ser feliz sem estar feliz”? Infelicidade anda lado a lado com o desânimo, com a falta de ímpeto. E sem força de vontade não dá pra se buscar os objetivos, pular os obstáculos e tudo o mais que precisa ser feito. Talvez esteja na hora de mudar os planos, as metas e o foco. Desejar menos a vida perfeita e partir em busca da felicidade. Pois acredite que ali, pertinho da vida feliz, estará a perfeição.

        
                                         Leonardo Pierre

..............................................................................................
Lembre-se: a vida perfeita depende do que lhe faz feliz!

terça-feira, 15 de maio de 2012

A outra ligação - Enfim, o Tempo



Queridos, o texto abaixo é uma continuação de um outro texto já publicado por mim aqui no blog. Aconselho que o leiam antes, para fazer um sentido melhor. Se chama "A ligação", publicado em 02/02/11. Boa leitura!
................................................................................................

Depois de alguns meses que a Saudade me ligou, aconteceram incidentes na minha vida. Perdi pessoas, me perdi em tudo... E adivinhem o que eu passei a sentir: saudades. Mas aí, quando eu queria mesmo falar com ela, ela não me ligou mais, só se fez presente no ar, pertinho de mim. Tão perto que eu parecia sentir sua respiração!
Nesses momentos eu lembrei de que a ligação tinha caído antes de ela me dar a última recomendação, a qual começava com “Faça de mim...”. Fiquei durante meses tentando entender o que a D. Saudade quis dizer pra mim, e talvez, queria que eu espalhasse por aqui. Recebi milhares de ligações nesse período e nenhuma delas era da Saudade, ou do Amor, ou de nenhum desses sentimentos, como me havia prometido.
Certa noite, dessas em que chove muito e faz um frio dos pólos, onde também é quando a saudade dói mais (desculpa D. Saudade, sei que a senhora não gosta de admitir, mas tem me maltratado bastante!) meu telefone tocou. Achei que fosse um amigo, uma amiga, uma tia, prima... Mas não era nenhuma dessas pessoas da lista óbvia que todos temos.
- Alô!
- Oi meu filho, tudo bem? – Disse ele, com voz imponente, bem impostada, quase ecoando. Achei inclusive, num primeiro momento, que fosse Deus... Ah, vai saber... Com medo, continuei:
- Tudo bem sim, mas quem está falando?
- Você foi avisado de que eu ligaria, não tem nenhuma suspeita?
Não... Eu não tinha nenhuma suspeita. Naquele momento nem passou pela minha cabeça a lista de “pessoas” que a D. Saudade disse que me ligaria. Suspeitei, a partir daí, que fosse algum professor me cobrando trabalho, algum amigo do trabalho perguntando de planilhas. Depois de reparar nos meus cinco segundos de silêncio, ele se apresentou:
- Sou eu, o Tempo!
- Ah, pára! De novo isso! – Exclamei surpreendentemente irritado com a ligação. Afinal, perdi a pessoa mais importante da minha vida alguns meses depois que a Saudade me ligou. Pensei: “Qual será o ônus que terei depois de mais essa ligação surpresa?” E como quem entendeu minha indignação, o Tempo continuou:
-Calma, filho! Em primeiro lugar, não vou brigar com você como fez a Saudade. Embora vocês aqui me vêem passar e nada fazem. Mas ela estava nervosa e muito agitada naquele dia. É temperamental, apesar de essa ser uma característica que remeta a mim. Fique tranqüilo porque eu já briguei com ela... O motivo da minha ligação é minha preocupação com vocês! Aquele baiano, o Caetano, me chama de deus e fez acordo comigo. Mas tirando ele, ninguém me nota. Me deixam passar e sabem que eu não volto da mesma forma. O que passou, passou! O vento é outro e o Tempo também.
- Vem cá, Tempo... com todo o respeito: porque eu tenho que ser o porta-voz de vocês aí do sei-lá-onde-vocês-vivem ?
- Isso quem tem que descobrir é você! Acontece é que por um problema da nossa operadora telefônica a ligação que a Saudade fez pra você caiu e ele não terminou de dizer o que queria. Mas o que me deixou chateado é que você não fez muito esforço pra entender o que ela quis dizer. Ela iria completar falando pra vocês fazerem dela um instrumento de superação. Além é claro de usarem ela pra lembrar-se de coisas boas, momentos bons. Ela só existe pra que vocês possam reviver, em pensamento, tudo aquilo que lhes proporcionou alegrias em suas vidas.  E eu, tenho participação nisso, por isso estou ligando
- Ah, claro... Vocês e suas ligações! Saudade irmã do Amor, agora vêm o senhor me dizer que tem a ver com eles também. – Resmunguei, abusando da paciência do Tempo.
- Isso mesmo. A Saudade dói às vezes, embora ela não reconheça isso. Mas eu venho pra trazer as lembranças e quando vou embora, levo comigo um pouco da dor. Aquela frase clichê “Com o tempo tudo melhora” é batida, mas é verdade! Comigo, as coisas vão melhorar, tudo vai clarear, o sol vai brilhar outra vez. Mas lembre-se: Eu passo, eu sempre mudo. Assim como o vento, meu grande companheiro de anos e anos...
Mais calmo, passei a raciocinar e lembrar de todas essas frases que a gente ouve durante a vida e vi que o que o Sr. Tempo me falou fazia todo o sentido, mesmo que nossa incredulidade nos bloqueie. Devo dar esse voto de confiança ao Tempo. Dizem que ele é “um dos deuses mais lindo”.
- Tudo bem. Vou acreditar no senhor e esperar que me ajude. Não que eu não goste do senhor, mas demora muito a passar não, ta? Leva um pouco essa dor da saudade e trás a bonança pra perto de mim!
Parece que ele não gostou muito e respondeu-me:
- O problema de vocês é que não sabem lidar com as coisas ruins que, mesmo sendo assim, ensinam muito. Ande um pouco, pense na vida, esqueça do mundo, pense em você, reorganize seus planos. Aí sim, poderei ajudar! Sinto muito meu filho, tenho pressa e preciso ir... Muita coisa pra pôr em ordem na vida de quem já aprendeu a conviver com a Saudade e agora depende de mim. Fique com meu Grande Mestre!
Pelo menos dessa vez a ligação não caiu e pudemos completar a chamada. O Sr. Tempo e sua voz de locutor que, a principio tinha me assustado, venho pra tentar clarear meus pensamentos. Acredito que tenha aprendido alguma coisa. Mas pôr em prática, só com o "Tempo"!

Leonardo Pierre
................................................................................................

E não é que o Tempo ligou?

Nunca Mais...



Decidi, assim de última hora, que nunca mais vou fazer algumas coisas. A começar pelo o que venho fazendo demasiadamente nos últimos tempos: reclamar da vida. Na verdade, não reclamo da vida... Eu reclamo pra vida. Porque não tenho mais coragem de reclamar pra uma pessoa. Tenho achado chato ficar nessa “choramingação” (Sim, é um neologismo e eu adoro neologismos). As pessoas até dizem que suportam isso, mas eu estou me colocando no lugar delas e sentindo minha chatice. Portanto, "NUNCA MAIS" reclamar da vida. Não, não... Vou trocar! Nunca mais reclamar da vida para os amigos. É, melhorou!
Após essa primeira reflexão, decidi nunca mais dizer nunca mais! Primeiro, porque a gente sempre acaba dando uma reclamadinha. Depois, porque esse lance de nunca mais é igual à promessa de réveillon. Por exemplo, já disse que nunca mais voltaria em um lugar que... Voltei depois. Já disse que nunca mais falaria com pessoas que... Acabei falando. Nunca mais amar, nunca mais me entregar, nunca mais beber (essa então!)...
Como vou banir da minha lista de afazeres a preguiça? A grande destruidora das vontades de fazer coisas... Tudo bem que com a preguiça comigo é bem mais fácil seguir uma série de “nunca mais”, porque com certeza abraçaria a preguiça e nunca mais, mesmo que eu quisesse, faria muita coisa! Logo, a preguiça fica. Um pecadinho a mais não é muita coisa pra quem peca todo dia, não é?
Bom, com isso ficou difícil! Como vou garantir que nunca mais eu vou dizer “nunca mais”?




Leonardo Pierre


..............................................................................................

Além de "nunca mais", quantas promessas vãs já não cansamos de fazer? Aos pais, professores, amigos e à nós mesmos...

domingo, 15 de abril de 2012

Às vésperas dos oitenta


A idade já está me pesando! Pernas cansadas cambaleiam... A mobilidade fugiu de mim há algum tempo. Não sei se chegarei aos oitenta. Também não sei se verei o próximo verão, mesmo que este esteja bem próximo! O ar seco me sufoca; o ar gélido que corrói como uma estaca a matar os vampiros medievais e suas capas rubro-negras.

Já não há mais o que comemorar... Menos ainda o que esperar se não a partida para outro lugar melhor que esse - sob o ponto de vista das minhas benfeitorias -, ou pior, se forem contabilizados os inúmeros erros, que após os quarenta fiz questão de apagar da minha memória. Esta, cada vez mais seletiva. Porém, ainda há o que lembrar! Agradecer, pedir perdão...

Aos amores que feri, sem saber que eram meus... Peço que me perdoem! O peso da idade muitas vezes me fez falta a ponto de me cegar e não perceber o quanto seria importante pra ter vocês em minha vida. E os amores que feri, ciente de que me pertenciam, esqueçam! Meu humilde pedido, a essa altura da vida não vai adiantar, a menos que tenham passado a vida inteira esperando por ele. Nesse caso, as desculpas são pelo tempo que fiz vocês perderem esperando por um ato que na minha juventude jamais faria!

Aos amigos que me acompanharam até aqui... Agradeço! Muito a Deus por ter deixado vocês viverem tanto quanto eu, para podermos rir das histórias que a memória não apagou, rir das fraquezas que lhes atingiram e me deixaram imunes... E vice-versa! Aos amigos que perdi por orgulho de ambas as partes, se vivos estiverem, peço que me visitem. Façamos as pazes! Não me deixem partir com esse título de ranzinza que carrego desde a menoridade. Aos amigos que perdi por causa de caminhos separados agradeço imensamente o prazer de tê-los conhecidos. Aqueles abraços que precisei e não me negaram nunca saíram da minha cabeça. As risadas desenfreadas, as cervejas quentes que bebíamos só de sacanagem, os sambas que dançamos juntos e tantos carnavais perdidos também não. Assim como nunca me esqueci dos banhos de chuva e as juras de amizade eterna. Os sonhos foram planejados juntos, mas a execução foi cada um por si. Feliz por saber que vocês conseguiram sozinhos!

Aos parentes que se perderam no tempo e no espaço... Saudade! Saudade da infância, onde um tio distante apertava minhas magras bochechas, jurando que no natal anterior, elas eram menores! Saudade das tias gordas, que ofereciam os melhores abraços e colos, além dos melhores quitutes. Era eu quem os provava, dava um “joinha”, roubava alguns e caminhava para o campinho, jogar futebol até a hora do almoço.

Aos empregos que tive... Um muito obrigado pela oportunidade de crescer e aprender a filtrar o que deveria ser levado para o resto da vida.

À minha mãe, diria que por todos esses anos em que fiquei sem sua companhia, não deixei de pensar nela um dia sequer. Talvez, o que de bom me espera seja ela! Caso nos encontremos, ela estará linda, conservada da maneira que partiu. E eu, um velho, parecendo seu pai! Mas como me acompanhou mesmo de longe, me reconhecerá e me receberá com aquele abraço que fez falta durante toda a minha vida. E me dará o colo tão aguardado. E como quem embala um vovô na cadeira de balanço, ninará seu próprio filho, desfigurado pela força do tempo.

Talvez eu tenha mais o que falar, mas não me lembro. Essa luz fraca do quarto não serve muito para me manter acordado. Caso eu tenha algo a dizer, que não conste aqui e eu parta antes de ter essa oportunidade, peço a um anjo que me faça esse favor... Caso eu encontre algum! Mas agradeço a Deus, por ter me dado essa semana, esse dia... Ou apenas mais alguns minutos para expressar o que tenho vontade há tantos anos. Vai que eu não chegue aos oitenta ou ao próximo verão... Mesmo estando ele tão próximo, não é?


Leonardo Pierre

...........................................................................................


Será que não está ficando tarde demais pra algumas decisões na vida?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Para ver o sol nascer


Às vezes temos a impressão de que o dia não amanheceu, preguiçoso que só! São aqueles dias, muitas vezes em sequência, em que a tristeza toma conta de tudo, o tempo é nublado, tudo é feio e frio... Ficamos frios! Vontades estúpidas e descabidas dominam nossos pensamentos. Temos a certeza de que o mundo é melhor sem nossa presença. Muitas vezes pensamos nisso e não há quem tire isso de nós, somente nós mesmos e em um longo processo de autoconhecimento... Na verdade, reconhecimento. Olhamos pra dentro de nós e percebemos o que mora ali. Quando o dia está escuro, não adianta: cultivamos o que há de pior!


Mas, embora pareça que não, o dia clareia. As nuvens se abrem e com elas abrem-se também os nossos sorrisos, ainda tímidos e foscos, mas dão o ar de sua graça! E a graça volta a existir. Voltamos a encontrar graça em nós e de nós, como se fossemos nosso circo, nosso palhaço, amigo e segurança. Depois que o dia amanhece, o sol surge brilhante, imponente e mostrando que não somos nada menos que um reflexo dele: Lindo, gigante e brilhante...


É claro que para alguns, o dia vem mais rápido. Dependo do nível da tristeza, solidão ou qualquer mal que assole a existência. Para outros, a noite é longa e parece interminável. Contando com as constantes irritações que pioram e muito o quadro. Mas tudo isso faz parte da provação diária a qual somos submetidos... É a forma que Deus tem de mostrar o quanto somos capazes.


Por mais difícil que pareça – e É – é muito importante tentar reagir. Aprender, inclusive, a filtrar os ouvidos e aproveitar apenas o que é bom. Não ter medo de chorar é um grande passo, por mais que muitos questionem isso ou achem um sinal de fraqueza. A fraqueza existe e todos a temos, e é contra ela que devemos lutar. Fraqueza não é sinal de derrota... É sinal de cansaço devido à luta. Portanto, lute! Pois o Sol só nasce pra quem acorda!



Leonardo Pierre



........................................................................................



Para todos que lutam... afim de, enfim, ver o sol nascer.