quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Pausa











Está tudo depressa demais
Além dos meses e anos
Vejam os carros!
Além de cinzas e preto depressa demais
Passam e nem se veem mais...

As pessoas,
Tal qual a moça que sai do metrô,
Também não se olham
Sempre nesses metros rasos
Sempre nos constantes atrasos
Para a escravidão que paga
Para que você não sorria
Os amores estão depressa demais
Passam e nem se marcam
Esquecem-se no meio de tanta correria
Desmancham-se na covardia
Pelo medo da profecia infeliz
Que só se é uma vez
Verdadeiramente feliz
Os acordes, estes também,
Estão rápidos demais
Para encaixar letras maiores
Numa canção descartável
Que virou uma qualquer
Não dedicando verso algum
A sequer uma mulher
Os livros, mais finos,
Para leituras cada vez mais depressa
Receita combatente da preguiça
Não há mais quem peça
Num canto da biblioteca
Um café para passar o tempo
Ou para congelá-lo
Ignorando a igreja
Que com seu badalo
Marca o meio-dia
Eu bem queria...
Eu bem queria
Um freio nessa loucura
Um tanto de doçura
Retirar a pilha do tempo
Para o bloqueio desse vento
Que torna a vida tão dura

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A casa, a Lanchonete e a Culpa

















Desencontrada
No meio da estrada
Em frente à lanchonete
Se alimenta só. Engorda
Se entope e polui
Cospe em si. Maltrata-se
Rasga-se e sofre
Mate-se pouco a pouco

A lanchonete
Que em frente, chama ninguém
Não pisca, Não grita
Não acusa a atenção... É a dona do mal
O mal que a Casa se propõe
Nunca será culpa dela
Ela não olha pra si
Já nem cabe mais em si

A lanchonete é o álibi perfeito
Pra quem vive seus defeitos
Apontando as deformidades
Que passam na outra calçada

Com licença, Maestro












É pau, é pedra
É osso, é foda
É tudo, é nada
É choro, é fossa
É chegada, é partida
É grito, é pranto
É estrada, é a vida
É a perda do encanto
Mas perdão discordar
Acompanhado ou sozinho
Que tal desencanto
Seja o fim do caminho

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O tempo passou na janela...




A verdade é que eu passei muito tempo sem querer nada. Inerte. Vendo o mundo rodar, o tempo passar pela janela e, eu (nem Carolina*), não vi(mos). Daí, tomei o choque. Um tiro - ou soco no estômago - da vida despertou o quanto resta pouco tempo a frente. Mesmo que seja muito.
Morremos um pouco a cada dia, desde que nascemos. Um dia a mais, sempre é um dia a menos. Vivê-lo como se fosse o último, antes de ser uma espera trágica é a melhor forma de fazer valer a pena esses poucos momentos que temos aqui. Sejam eles correspondentes à 5 ou 50 anos.
Mas, voltando ao soco na boca do estômago, que provocou úlceras terríveis à primeira vista, comecei a querer tudo. E ao mesmo tempo. Que loucura ter só duas mãos para abraçar esse mundo gigante! Aqueles sonhos na gaveta (junto com alguns textos impublicáveis) vieram à tona e na mesa, a vontade de realizá-los virou prioridade.
Que bom!
Desejo a vocês muitos socos no estômago, se preciso forem. Mas não deixem de sonhar, realizar, e assim, viver.

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*Em referência ao samba lindo e triste Carolina, de Chico Buarque, mais precisamente ao trecho "Eu bem que mostrei à ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu"


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Devaneios de um dia ensolarado










Ah, que desperdício de tempo
Estar preso num prédio
Trampo ou apartamento
Dia lindo lá fora
Perfeito em se perder
Esquecer-se da hora...
Vá, fuja!
Perca-se
Abandone-se deste corpo engravatado
Dessa jaula econômica das oito horas
Dia lindo demais 
Para computadores e impressoras
Corra na areia, fique de boas
Mas caso for,
Leve-me junto, por favor
Ou seremos apenas
Devaneios de um escritor