terça-feira, 18 de junho de 2013

Chame como quiser



Aposto, sem medo de errar, que estamos vivendo um marco na democracia brasileira. O dia 17 de junho de 2013 entrará, certamente, pra história como a definitiva volta da participação popular nos movimentos em prol de um bem comum. Um grito unificado, mesmo com reivindicações diversas.
Não sou contra o uso de clichês, mas venho aqui criticar um. Durante anos acompanhamos revoltosos, mas passivos, dizendo coisas do tipo “o Brasil não muda porque o povo não se manifesta”. Pois bem, aí estamos, nas ruas, no Rio, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e tantas outras nesse grito aflito de quem não agüenta mais. Não agüenta corrupção, descasos com educação, saúde e transporte, enquanto milhões, bilhões de reais são gastos na produção dos eventos esportivos, os quais eu não sou contra... Mas poderia ser de maneira igual! Nem entrarei no mérito dos vinte centavos, pois acredito que até os mais críticos já entenderam os reais motivos. Falta Brasil para brasileiros, e não para encher os olhos das organizações estrangeiras.
Neste 17 de junho vi nos jovens, nos olhos deles – Alguns “cansados” das pimentas e afins atirados neles há alguns dias – a esperança. Me lembrei de um dia, o desses jovens, sedentos por transformações lotaram sob chuva, em 21 de setembro de 2012 os arredores dos Arcos da Lapa para o último comício do então candidato a prefeito, Marcelo Freixo. Não querendo transformá-lo no herói dos jovens, mas busco na memória uma frase que, ao perceber os movimentos recentes, se tornou emblemática: “Perdendo ou ganhando, a militância não pode parar”. E não parou! Tomou-se novamente o gosto de ver política, discutir política, como há tempos não se via.
Fomos 5 mil... Apanhamos. Fomos 10 mil... Apanhamos. Lutamos, não desistimos, denunciamos, berramos com o gogó juvenil, incansável até nos fazermos ouvidos. Deu certo. A visão da mídia parece estar cada vez mais mudada, a sociedade que antes nos rotulava como vândalos agora dá apoio quase incondicional e ocorre uma maré bonita: Todos agora são a favor das manifestações. Acham legítimas. Isso é bom, jamais reclamarei de quem muda de opinião, exceto de quem a faz apenas para seguir o bloco maior. E mesmo sendo a favor, consegue visualizar que os atos de vandalismo são obra da minoria.
Passamos de 100 mil pessoas soltando a voz juntas, no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Alguns olhares fascinados por verem que seus gritos têm força, ecoam, transbordam e transcendem as redes sociais. Os pacíficos, a quem ofereço esse texto, estavam lá. Mesmo com medo, mesmo com os conselhos para não irem, mesmo com máscaras ou camisas protegendo o nariz. Não era Bola Preta, nem Monobloco – que eu adoro! – nem marcha promovida pelo governo para lutar por algo que não vemos a cor. Era um protesto apartidário, de quem luta pelo que acredita. Infelizmente, uma parte pequena desses Cem Mil tinha outro propósito. Além de protestar, guerrear. Feio. Uma pequena mancha em um movimento que está entrando para a história. Não por pretensão, é provável que nossos netos vejam isso nos livros didáticos de história.

Depois de duas décadas, voltamos para as ruas. Após esse intenso sono, os sonhos foram tomando corpo, as agruras serviram como fermento nesse bolo de insatisfações. Medo, angústia, euforia e orgulho, misturados no liquidificador das emoções. Manifestantes, rebeldes (com causa sim, senhor!) ou um bando de jovens sonhadores. Chame como quiser... Mas nos deixe viver esse sonho de “ser possível”. 

3 comentários:

  1. Sou fã de relatos e conseguiu descrever muitíssimo bem. Parabéns, como sempre.

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  2. Belas palavras , um texto leve mais com um significado muito forte . Parabéns

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  3. ...e não desaprendemos a sonhar!

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