terça-feira, 25 de outubro de 2016

Nosso Sol












No céu desponta, cedinho
Bem atrás daquela ponte
Que daqui avisto a parte
Que seu corpo não esconde -
Retorcido e cansado
Preenchido de viveres -
Uma luz que pouco a pouco
Enche o dia de prazeres

Inda era madrugada
Quando tu adormecias
Nada competia, então
Só o teu calor sentia
E agora tanto brilho
Bem diante dos meus olhos
Ao olhar diretamente
Ameaça me cegar
Arde a vista e eu insisto
Me alegra a teimosia
E tu dormes, ignoras
Que a noite virou dia

Passados Amantes









O peito da gente vira
Uma morada engraçada
A gente dorme, acorda e um dia
De repente sente nada...

Todo amor que dor virou
Nos inundando vez ou outra
Quando vê, já se mudou,
Foi morar noutra pessoa

E se a outra pessoa
For eu, nesse momento?
Se ontem, vazio, o peito
Abriga algum sentimento:
De quem teria herdado
Um amor tão renegado
De um alguém entristecido
Por amores repassados?

...

More em mim, talvez, (Quem sabe?)
O que já foi seu um dia;
Os amores que meus pais
Já amaram em outras vidas;
Ou aquele que José
Entregou para Maria

Deixa fraco de tão forte
Que quem imaginaria
Que da dor, o amor viria?
Sendo amado, assim: Tanto!
Requentado de outras vidas
Sem perder o seu encanto
Mesmo sofrendo avarias

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A você e esse sorriso desconcertante...

 








     Olha... Deus me livre desse sorriso apontando pra mim. Não que eu prefira o choro e a ira, mas esse sorriso destrói uma vida, tem ciência?
     Ok, uma vida não. Mas derruba qualquer barreira que eu criei em torno de mim contra esses ataques esfuziantes do cupido que, quando vem, nem sempre é com as melhores opções.
     - PORTANTO, disse ao coração, NADA DE SE APAIXONAR, OUVIU?
     Não, ele não me ouve de jeito nenhum. Nunquinha nessa vida ouviu! Então, já que não posso contar com ele, posso contar com você? Simples: escondendo esses dentes branquinhos dentro dessa boca de beleza ímpar, com esses lábios carnudinhos que dão vontade de morder e fazê-los encostar nos meus. Guarde-os.
     Pode ser? Porque não sou imune à paixão que certamente me içará ao céu e, como não sei voar, jogará ao chão um tempo depois. Obrigado pela colaboração.

domingo, 25 de setembro de 2016

Sereia









   



     Eu sei lá dos mistérios desse mar. Na verdade, sei pouco ou quase nada de todos os mares. Há um medo cercado de respeito,  que a certa altura se misturam. Há também encantos, e estes são segredos. E segredos são sagrados.
     Guarde, então, grande mar, seus segredos, mitos e lendas. Como os cantos que não se devem seguir.
     Obrigado pelo colo. Odoyá!

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O último trem

   

     Madrugada...  É aquele trem sem destino que vai largando suas cargas de porta em porta.

     Quando tudo e nada fazem sentido na mesma intensidade; Quando nascem os melhores textos e ao mesmo tempo aqueles escritos que se fossem no papel, teria o lixo como destino. Sem lógica. Ou tanta lógica que jogaria toda sua postura fora. Para melhorar, a pior música com as melhores melodias para rasgar-se todo de vez. Um amor que ri e chora, no silêncio que grita e molha a fronha e o lençol...
     Quando vem a vontade de pegar o telefone e ligar para 300 pessoas e vociferar todas as confusões que moram na sua mente. E ao mesmo tempo, sabe que ninguém entenderia a profundidade das suas reflexões, por mais que se esforçassem. E por ser tarde, não acordaria vocês, meus amigos... E por nem eu mesmo entender o que se passa aqui dentro, jamais cobraria esse entendimento de quem quer que seja.
     Vou aos poucos me convencendo de coisas absurdas. Todas as certezas do dia vêm num pacote e desembarcam na minha cama. Quando eu abro, são as besteiras que pensei ao meio dia e disse “agora não”. Pois bem, na madrugada elas vêm cobrar atenção. E eu dou a atenção que elas merecem. Tento zerar todas as dívidas para começar bem o dia. A essa altura, a cabeça já dói de tanto chorar, eu só penso em dormir porque preciso acordar cedo para trabalhar. Mas tem tanta dívida para pagar, que apagar, realmente, só às 3h...

     A madrugada vem trazendo as saudades que já estavam enterradas há tempos. Enterradas, não... Adormecidas, hibernando nas cavernas (da tentativa) do esquecimento. Tolo! Sou completamente virado do avesso e revirado inúmeras vezes até pousar do lado certo, enquanto as confusões repousam do meu lado. Sempre tem um travesseiro sobrando mesmo...

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

O Cara

   









     De tanto ouvir as histórias de amor das pessoas, passou até a acreditar que esse cara existia. Não um cara que pudesse amar. Mas o amor, esse cara meio que inventado por todas as pessoas para justificar as insanidades cometidas com sorriso nos olhos. Ou os choros de morte na boca. E vice-versa, sabe?
      Pegou a bolsa e saiu. Andou a cidade toda e viu esse cara várias vezes num único dia de setembro. Com calma, nada para se fazer. Viu folhas caindo. Achou lindo! Ainda pela manhã, um cão se soltou da coleira e correu em sua direção. Sem medo, se abaixou, fez carinho em sua cabeça. Era amor puro presente. Achou lindo e foi embora sorrindo. Aquele sol de meio-dia dói em Bangu, mas não na zona sul... A praia de Botafogo estava suja, mas lá no fim daquele quadro, dois morros viram um, fazia uma leve sombra na água do mar. E - NOSSA! - como era lindo. As árvores da rua Paysandu, no Flamengo; Os arcos da Lapa com o bonde passando lá no alto; O Theatro Municipal e a Candelária, ornados pelos detalhes  e acompanhados pelo sol; Toda a extensão calma da Presidente Vargas à sombra... O cara estava ali.
     Almoçou dois pastéis com caldo de cana em Madureira e Madureira é muito amor... As crianças curiosas com as coisas vendidas na calçada do Mercadão são lindas. Perguntas como "mãe... Pra que serve aquilo?", àquela hora, se fez em amor.
     O tal cara resolveu fazer companhia o dia inteiro mesmo. Comprou coisas inúteis e que nunca usaria. A única bolsa já não estava sozinha e era amor em cada sacola plástica. A tolice é o amor. E ela nunca tinha pensado nisso. Em casa, cansada, tomou banho e cada gota que caía era amor líquido derramando em seu corpo. incrível como foi o melhor banho de sua vida.
     O amor mora nas imagens e nos detalhes... Deitou pra descansar. Sorriu. E amando, sonhou.



quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Pausa











Está tudo depressa demais
Além dos meses e anos
Vejam os carros!
Além de cinzas e preto depressa demais
Passam e nem se veem mais...

As pessoas,
Tal qual a moça que sai do metrô,
Também não se olham
Sempre nesses metros rasos
Sempre nos constantes atrasos
Para a escravidão que paga
Para que você não sorria
Os amores estão depressa demais
Passam e nem se marcam
Esquecem-se no meio de tanta correria
Desmancham-se na covardia
Pelo medo da profecia infeliz
Que só se é uma vez
Verdadeiramente feliz
Os acordes, estes também,
Estão rápidos demais
Para encaixar letras maiores
Numa canção descartável
Que virou uma qualquer
Não dedicando verso algum
A sequer uma mulher
Os livros, mais finos,
Para leituras cada vez mais depressa
Receita combatente da preguiça
Não há mais quem peça
Num canto da biblioteca
Um café para passar o tempo
Ou para congelá-lo
Ignorando a igreja
Que com seu badalo
Marca o meio-dia
Eu bem queria...
Eu bem queria
Um freio nessa loucura
Um tanto de doçura
Retirar a pilha do tempo
Para o bloqueio desse vento
Que torna a vida tão dura

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A casa, a Lanchonete e a Culpa

















Desencontrada
No meio da estrada
Em frente à lanchonete
Se alimenta só. Engorda
Se entope e polui
Cospe em si. Maltrata-se
Rasga-se e sofre
Mate-se pouco a pouco

A lanchonete
Que em frente, chama ninguém
Não pisca, Não grita
Não acusa a atenção... É a dona do mal
O mal que a Casa se propõe
Nunca será culpa dela
Ela não olha pra si
Já nem cabe mais em si

A lanchonete é o álibi perfeito
Pra quem vive seus defeitos
Apontando as deformidades
Que passam na outra calçada

Com licença, Maestro












É pau, é pedra
É osso, é foda
É tudo, é nada
É choro, é fossa
É chegada, é partida
É grito, é pranto
É estrada, é a vida
É a perda do encanto
Mas perdão discordar
Acompanhado ou sozinho
Que tal desencanto
Seja o fim do caminho

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O tempo passou na janela...




A verdade é que eu passei muito tempo sem querer nada. Inerte. Vendo o mundo rodar, o tempo passar pela janela e, eu (nem Carolina*), não vi(mos). Daí, tomei o choque. Um tiro - ou soco no estômago - da vida despertou o quanto resta pouco tempo a frente. Mesmo que seja muito.
Morremos um pouco a cada dia, desde que nascemos. Um dia a mais, sempre é um dia a menos. Vivê-lo como se fosse o último, antes de ser uma espera trágica é a melhor forma de fazer valer a pena esses poucos momentos que temos aqui. Sejam eles correspondentes à 5 ou 50 anos.
Mas, voltando ao soco na boca do estômago, que provocou úlceras terríveis à primeira vista, comecei a querer tudo. E ao mesmo tempo. Que loucura ter só duas mãos para abraçar esse mundo gigante! Aqueles sonhos na gaveta (junto com alguns textos impublicáveis) vieram à tona e na mesa, a vontade de realizá-los virou prioridade.
Que bom!
Desejo a vocês muitos socos no estômago, se preciso forem. Mas não deixem de sonhar, realizar, e assim, viver.

                         __________________________________________
*Em referência ao samba lindo e triste Carolina, de Chico Buarque, mais precisamente ao trecho "Eu bem que mostrei à ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu"


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Devaneios de um dia ensolarado










Ah, que desperdício de tempo
Estar preso num prédio
Trampo ou apartamento
Dia lindo lá fora
Perfeito em se perder
Esquecer-se da hora...
Vá, fuja!
Perca-se
Abandone-se deste corpo engravatado
Dessa jaula econômica das oito horas
Dia lindo demais 
Para computadores e impressoras
Corra na areia, fique de boas
Mas caso for,
Leve-me junto, por favor
Ou seremos apenas
Devaneios de um escritor

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Cimento fresco













- Oi.
- Oi...
- O que você está fazendo?
- Estava, na verdade...
- Como assim?
- Estava me curando de você. Do vício de você. Da vontade de saber onde você está, com quem e fazendo o que... Mas aí você reapareceu, de repente,  derrubando o muro que eu criei pra me proteger, com cimento ainda fresco.
- Nossa, desculpa o incômodo.
- Agora?  Fica né! Me ajuda a terminar de destruir o muro?

Saudades, senhor










     O Amor? Conheço esse moço... Algumas vezes veio numa visita rápida; Noutras, até chegou a dormir por aqui. Estranhamente, criamos um laço de amizade, com papos demorados, entrosados, ideias em comum. O Amor é bacana! Bebemos juntos, saímos para dançar. Outras vezes, me Levou a lugares incríveis sem sairmos do lugar

     Mas anda meio sumido... Sinto que ele está aqui perto, talvez na vizinhança. Mas aqui em casa ele não vem há tempos. Se alguém o vir, por favor, avise que o prato dele está esfriando. Podemos jogar um baralhinho, beber um vinho. Se ele estiver magoado comigo, podemos conversar e nos entender. Ele precisa me explicar o que eu fiz.

     Saudade dele, esse sapeca...

sexta-feira, 22 de julho de 2016

O das ruas


Tava lá na esquina
Olhando para o nada
Nada, realmente, havia
e ele fez-se do nada
Pois nada era tudo o que tinha

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Seu pouso










Passarinhos passarão
Por aqui gorjearão
Mas vão procurar
Outros Flamboyants para pousar
Porque este ninho
Embora esteja vazio
Será sempre o seu lugar

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Cacos













Pegue a pá, uma vassoura e junte os cacos. 
Pode se dar o trabalho de tentar colar, mas quantas vezes você já fez isso? Porque não tentar se refazer? Reinventar-se?
Cacos todos temos e sempre teremos! Sempre nos espatifaremos de cara no chão na próxima esquina, mesmo que a esquina não esteja tão próxima. O tombo as vezes é pequeno, caso não tiver dado tempo de subir tanto (comemore, nesse caso!). Acostume-se, por mais cruel que seja essa realidade, com os tombos. Aproveite que "merthiolate" não arde mais, faça um curativo e volte a andar. Mas se quebrar, por favor: Analise se vale a pena fazer reparos emergenciais, e tornar a ser a mesma pessoa outra vez. Não se culpe por se cansar de quem você é! Insano conselho, mas faz parte essa mudança de roupagem.

Esse processo leva mais tempo. Pede um período de auto-avaliação. Pede uma certa abdicação... Mas seu retorno, acredite, será 100%! 
Mas caso tenha se acostumado a ser apenas 50%, 60% ou 70% do que pode ser, aconselho que pegue a pá, uma vassoura, uma cola e remonte os cacos... Mas tenha conhecimento do prazo de validade.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Desencontro










Sem a facilidade de encontrar por aí
Um amor que pudesse chamar de verdade
Nos perdemos
Vaguei pela cidade
Num batuque, sob os Arcos
Ela, na orla olhando os barcos
Ficou por lá, esperando alguém.
Alguém que até hoje
Não sabe se vem. 

A gente se vê...

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Meu reflexo III










Eu minto sempre
E a principal vítima é meu espelho
Quando me percebo vivo
São!
As vezes esqueço que vivo
Perco tempo apenas existindo
Arrastando-me
Empurrando-me aos precipícios
Acordo e, de repente, sei voar
Insano!
Olho de volta para o espelho
Meu reflexo devolve a ousadia
Sorri para dentro de mim
Através dos meus olhos
Invade-me a alma
E minhas certezas são todas reviradas
Revistadas
Postas para fora
E eu me limpo.
Meu reflexo me varre
Mostra-me a verdade
O espelho se quebra e se refaz
E o reflexo me diz:
"Esse é o novo você...
Bom dia, bom trabalho!"
E eu saio.

Ela










No início,
Seu medo era ser deixada.
Histórico incrível de rejeições
Achava impossível suportar a próxima.
E a próxima chegava.
Ela relutava, se iludia
Amava e se perdia.
Ao olhar para o lado, estava outra vez sozinha
Avançou duas casas. Eles, uma só.
No fim,
Acostumou-se
E aí, foi
Vez ou outra.
Vez em quando.
Vez em sempre.
Sozinha.

Testagem













Deitou-se com vários
Assim, por experimentação
Deixou que a usassem
Pensaram que a usariam
Ela quem os usava
Testava, sentia,
Roubava-lhes a alma
Deixava-os fracos
Entregues, sem sangue
Sem ar
Depois mandava-os embora
Pois até agora:
Com alguns, um beijo bom
e apenas;
Com outros, um sexo bom
E apenas.
Nenhum, porém,
Abraçou-a de modo satisfatório
Na hora de dormir
E no fim de tudo
Isso é tudo que ela quer

domingo, 10 de julho de 2016

Além da capa


Pronto, vou revelar:
Usei aparelho!
Tinha um sorriso bacana, mas um dente torto para dentro
Daqueles encavalados
Nas fotos, algumas, parecia não ter dente
De tão para trás tal dente estar
Mas sempre fui assim
Uma alegria que, até, atrai
Uma simpatia que, até, faz se aproximarem
Portanto...
Sou mais que esse sorriso que você diz ser lindo
Fui educado de uma forma linda
Com amor que até hoje entrego a todos

O encantamento com o sorriso é passageiro
Enjoa, com o tempo
Torna-se natural, normal, e as vezes banal 
Então,
Se não souber olhar para dentro de mim
Meu sorriso só vai te fazer feliz à primeira vista
Talvez até à segunda, terceira...
Mas o que eu tenho aqui dentro
Se souber enxergar
É contínuo...
Mesmo não sendo eterno.

sábado, 9 de julho de 2016

À vida














Tá bom...
Eu confesso
O erro foi meu
Agora para de bater

... Você não, Coração
Seu idiota.

Calma



Relaxa, amigo
Todo mundo se perde...
Exclusividade sua
Só sua roupa íntima

...
E olhe lá!

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Control L












Sei lá mais o que eu quero
Se o que tanto quis ainda tem valia
Já nem me lembro mesmo do que queria
Nem do que gostei um dia
Nem sei em qual esquina da vida me perdi
Porque este aqui
Claramente
Está longe de ser eu

Caneca











Ei, você!
Falta muito pra chegar?
Eu sei que não me prometeu nada
Tão pouco me conhece
Já passaram tantos corações por aqui
Mas o seu... 
Ah, você!
Por onde anda?
Bem, pra lhe esperar fiz um café!
Se preferir, cerveja na geladeira
Pinga no balcão, bolo no fogão
Tem feijão fresco também
Sempre me virei bem
Mas ao chegar
Traga esse amor quentinho
Pra transbordar minha caneca...

Que há tempos anda pela metade.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Amanhã

Na manhã de amanhã 
Claro, teremos sol. 
De dentro pra fora
Expondo e excluindo as mazelas
As dores 
Os medos
Mas agora, enquanto sendo hoje
Deixe que a dor me doa
Pra que sobre nada para amanhã
Que a lágrima caia
E que molhe o solo
D'onde há de nascer as flores
Que o sol de amanhã iluminará

segunda-feira, 7 de março de 2016

Mais um dia... Menos um dia


Quero dormir, ou quem sabe, fingir
Sonhar, ou quem sabe, partir
Me eximir da culpa de viver 
Enquanto houver motivos pra morrer
Decido a vida como bem quiser
Por isso me recuso a perder...
Ao acordar nesse falso altar
Por me agraciar com tantas cores
Queira, Deus, ser dono de mim
Livrando a amargura dessas dores
E lindo ser, vivendo
Sonhando, mas permanecendo atento
Talvez ignorando o calendário
Que insiste em me mostrar o fim do tempo
À luta, sem perder a esperança
E sem esvaziar o coração
Desejo ir dormir feito criança
Que se encanta com bolinha de sabão

Ir

Tudo é questão de confiança,
Que eu também nem tenho tanta,
Mas sorrio e vou à luta
Pois seguir é importante
Mesmo com a batalha curta
Mesmo sendo um ser errante
Mesmo que nem tudo rime
Mesmo com falta de ar
Mesmo que tudo termine
Mesmo que me faltem as pernas
Mesmo que acabem as caronas:
Ir ainda é o melhor
Pois a volta me compensa
Com o sorriso que fui

Volto, as vezes diferente,
Com a confiança de sempre
Ou de nunca, como sempre
E quem é que vence sempre?
E para que existe o sempre
Se é o impossível que me espanta?
Nessa terra de "me espera"
o "vambora" é que me encanta

Elas sempre olham


     Os dias, para quem mora longe do trabalho, já começam cansativos na viagem. Não possuindo carro particular, piora um pouco. O jeito é se arrumar bem, borrifar um bom perfume, se vestir de um lindo sorriso e pedir carona encarar o transporte público, onde ás 07 da manhã já é possível detectar alguns odores não tão agradáveis quanto o seu, pois já deve estar na rua desde ás 05 horas. Não, isso não justifica, pois existem desodorantes com 48 horas de duração (quem fica esse tempo todo sem tomar banho???). E sua blusa bem passada? Esqueça disso se por acaso depender de ônibus, trêm ou metrô...
     Mas nem tudo é de todo ruim. Eu que faço essas viagens tomando conta da vida dos outros prestando atenção nas cenas cotidianas, às vezes me emociono. Dia desses no metrô, cheio como de costume, me apoiei na porta, na tentativa de sobreviver de um possível esmagamento, olhando para todos à minha volta, com o tempo passando mais depressa no relógio que a composição sobre os trilhos. Do outro lado, um homem e uma mulher, bem próximos (e não tinha mesmo como não estarem), conversavam sorrindo, enquanto ela carinhosamente passava as mãos no cabelo dele. Ele, por sua vez, a olhava expressando ternura e admiração extrema. Torci para um beijo, enquanto eles falavam sobre planos, e ela notoriamente com mais idade parecia lhe dar conselhos e dizer o q faria se estivesse em seu lugar. Ele consentia, balançava a cabeça afirmativamente.
     Eu ainda torcia para um beijo quando foi anunciada a próxima estação. Eles começaram a se despedir, se olharam e levemente tocaram os lábios um do outro. Tão sensível e apaixonado, que passei a ser o terceiro apaixonado daquela relação. Quando abriu a porta do metrô, ela, antes de sair com suas enormes bolsas alocadas no ombro direito, virou e lhe disse: - Mamãe te ama!... Arregalei os olhos para impedir que qualquer lágrima marota se derramasse deles e me controlei para não ir até o rapaz e perguntar o que faltava para ele dizer que também a amava. Eu não precisava mesmo interferir no relacionamento deles, pois ele disse. E alto! Eu estava quase satisfeito naquela manhã...
     Enquanto a mãe mais linda daquela viagem se afastava à caminho da escada, eu torcia: "ela vai olhar pra trás". Eu tinha certeza daquela cena complementar. O metrô fechou as portas, enquanto o rapaz a olhava se distanciar. Ela, como em câmera lenta, pôs o pé na escada, se virou, sorriu, e com o auxílio das mãos, entregou-lhe um beijo, jogando-o no ar com o endereço daquele rosto de menino que o filho passou a ter naquele momento. Eu sabia... As mães sempre olham.

     Direcionei-me àquela porta para descer na próxima estação, olhei para o rapaz e por pouco não o abracei. Mas me contive e apenas sorri, associando aquela cena à tantas parecidas que vivi com a minha mãe, recordando de todas as vezes em que a flagrei olhando para trás ao nos despedirmos.