quinta-feira, 8 de setembro de 2016

O Cara

   









     De tanto ouvir as histórias de amor das pessoas, passou até a acreditar que esse cara existia. Não um cara que pudesse amar. Mas o amor, esse cara meio que inventado por todas as pessoas para justificar as insanidades cometidas com sorriso nos olhos. Ou os choros de morte na boca. E vice-versa, sabe?
      Pegou a bolsa e saiu. Andou a cidade toda e viu esse cara várias vezes num único dia de setembro. Com calma, nada para se fazer. Viu folhas caindo. Achou lindo! Ainda pela manhã, um cão se soltou da coleira e correu em sua direção. Sem medo, se abaixou, fez carinho em sua cabeça. Era amor puro presente. Achou lindo e foi embora sorrindo. Aquele sol de meio-dia dói em Bangu, mas não na zona sul... A praia de Botafogo estava suja, mas lá no fim daquele quadro, dois morros viram um, fazia uma leve sombra na água do mar. E - NOSSA! - como era lindo. As árvores da rua Paysandu, no Flamengo; Os arcos da Lapa com o bonde passando lá no alto; O Theatro Municipal e a Candelária, ornados pelos detalhes  e acompanhados pelo sol; Toda a extensão calma da Presidente Vargas à sombra... O cara estava ali.
     Almoçou dois pastéis com caldo de cana em Madureira e Madureira é muito amor... As crianças curiosas com as coisas vendidas na calçada do Mercadão são lindas. Perguntas como "mãe... Pra que serve aquilo?", àquela hora, se fez em amor.
     O tal cara resolveu fazer companhia o dia inteiro mesmo. Comprou coisas inúteis e que nunca usaria. A única bolsa já não estava sozinha e era amor em cada sacola plástica. A tolice é o amor. E ela nunca tinha pensado nisso. Em casa, cansada, tomou banho e cada gota que caía era amor líquido derramando em seu corpo. incrível como foi o melhor banho de sua vida.
     O amor mora nas imagens e nos detalhes... Deitou pra descansar. Sorriu. E amando, sonhou.



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