segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Missão: desvendar!

        Percebi que o que mais me atraiu em você foi o seu mistério. Seu ar de segredo com olhar de “vem me decifrar” chamou mais minha atenção que sua notável beleza. Havia nesses olhos uma ingenuidade burra que me fazia lhe querer e me desafiava, no jogo particular de me provar que seria capaz de lhe conhecer mais que você... Sua testa, ora franzida, ora acompanhando a sobrancelha esquerda levemente levantada não me intimidava. Eu ria. Pensava como ser possível em tão poucos anos vividos, caber tanta arrogância e altivez. Que alias, não duraram muito tempo, como eu já previa.
       Eu, que não sabia grandes coisas da vida, mas sabia um pouco do mundo, me apaixonei pelo seu mistério, antes mesmo que pudesse descobrir seu nome. Até que chegasse ao seu convívio, não me cansei de olhar de longe o que eu tinha certeza que estava me esperando. Sondei, rondei, forcei “encontros casuais”... Como já me apaixonara por tudo que você era antes mesmo de lhe conhecer intimamente, não foi muito difícil me afeiçoar pelo seu toque, seu nome, seu cheiro, seu jeito. Depois de perder os sentidos, perdi também o controle da situação.
       Passei a lhe ensinar um pouco mais da vida, enquanto você me ensinava o quanto era bom ser espelho para alguém. Gostava disso. Era uma mútua satisfação: meu prazer em proteger; seu conforto em ter onde deitar, encostar e se sentir longe de qualquer perigo. Apequenei-me diante de tanta pureza. Enquanto decifrava todos os seus mistérios, os quais eram os principais motivos pelo meu encantamento, você se desnudava mais ainda na vida. Não queria, mais acabei sendo o responsável por esses seus voos. Perdi o controle de mim, de minhas atitudes e sobre você...
       Você já era quase totalmente transparente pra mim e os desafios já não eram mais tão nobres. Não havia mais cheiros a descobrir, mistérios e segredos, o toque não se renovava. Era muito de você em mim. Transbordou e esvaziou aos poucos. Eu não queria aquele jogo besta e comum dos casais normais. Não era instigante ter que administrar crises rotineiras.
       Agora, de longe, entendi que o fim de qualquer coisa nossa, coincidiu com o fim dos seus mistérios. Soubesse disso, eu jamais teria tido tanta pressa em lhe descobrir. Gostava da sua ingenuidade, da arrogância acompanhada de caras e bocas e trejeitos. Sobrancelhas e testas franzidas. Gostava do que você era
. E eu, ainda sendo o velho eu, continuo me desafiando a descobrir novos segredos espalhados por aí.

                                                                                   Leonardo Pierre

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Descobrindo...

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